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Um filme tem a capacidade de nos fazer imaginar e mesmo sentir, ainda que parcialmente, uma situação existencial possível. É por este motivo que filmes que condensam uma vida inteira, seja ela repleta de alegrias ou de tragédias, no espaço de uma ou duas horas são tão impactantes. Não fomos projetados para sentir tanto em tão pouco tempo. Mas sentimos e isso achochalha o nosso Eu.

Comentários

Eros disse…
Discordo. É como a luz, não fomos projetados para ver nem com pouca, nem com muita luz. Tanta a sua ausência quanto o seu excesso cegam. Se somos capazes de sentir em graus, então parece-me claro que seletivamente o ideal do quanto devemos sentir num determinado intervalo de tempo não pode ser o máximo que seríamos capazes de sentir, neste intervalo de tempo, sem perder a consciência. É energicamente inviável.

Não sentir também achocalha o EU, tanto quanto sentir demais.

Mas fica a questão se só podemos atingir a plenitude do ser sentindo com a intensidade máxima. Sim, provavelmente. Mas por quanto tempo alguém pode suportar isso sem, paradoxalmente, se perder justamente quando se encontra?
Eros disse…
Melhor trocar o "quando se encontra" por "enquanto se encontra".
Que tal um teste? Um teste de sentir.
Música: Everybody Hurts
(do R.E.M., lírica!)
Sugestão: luz de abajur, um cálice de licor de amêndoas, coloque no "repetir" e deite no chão ou num sofá macio & aí permaneça pelo tempo que conseguir "voar".

Sentiram alguma coisa?!
Ando numas de retorno às líricas,
Neil Young também é mágico para "sentir" o próprio sentir em meio a licores e meia_luz.

beijos,
sANdrA
Eros disse…
Eu não consigo assistir Tarnation duas vezes seguidas. A não ser que eu feche as portas para não ver o que vejo e não sentir o que sinto. Mas se deixá-las abertas, vai entrar mais luz do que posso suportar.
Eros disse…
Essa música eu tenho aqui, Sandra.
:) pode ser de chocolate sim,
mas o ideal é Absinto,
bem dosado...
para não tirar a percepção de espaço e tempo e outras mais.

Tens R.E.M aí, Eros? Então curtes líricas?
Olga,
isso foi filosófico & filosófico & filosoficamente profundo; você:

"É tão fácil amar o que é fácil amar; é tão fácil fazer o que é fácil fazer; é tão fácil falar o que é fácil dizer; é tão fácil pensar o que é fácil pensar.

Mas o ser humano é um atravessador e transpositor das aparentes facilidades do lugar comum; somente se esquece, totalmente, disso."

Realmente isso leva a inúmeras outras reflexões e de-dentro de uma existência, então, vai ao infinito.

És-tu uma Filósofa & tanto! E não precisou da Academia para isso, eis uma prova de que mentes filosóficas não são "produzidas" dentro do sistema acadêmico.
Ser filósofo (a) acredito, ou está dentro de nós ou não está e se não está o modo-de-ser chega a ser em muitos uma lástima_existencial. Ah, mas não desejo retornar a essas críticas, só desejava, em analogia, dizer que fico mais que feliz por ver que sendo a filósofa que és, és por ti mesma.
abraço em alma,
sANdrA

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