Quando alguém diz algo, duas coisas, no mínimo, estão envolvidas: aquilo que foi dito e o ato de dizer algo. Em se tratando de asserções, o que foi dito, supondo a bivalência, é verdadeiro ou falso. O ato de dizer não é verdadeiro, nem falso, é uma ação e, como tal, produz um efeito sobre o interlocutor. Ter ciência desse efeito tem relevância prática para a boa condução de uma discussão. Dizer para o seu interlocutor que ele é burro, quando de fato ele é burro, o que geralmente pode ser contestado, haja visto a vagueza deste predicado, pode ser uma constatação, se for verdade, mas é uma constatação que evoca reações que minam o debate. Em geral, só um tolo vai chamar outro de burro em um debate.
Irracionalismo é a tese de que os nossos julgamentos são arbitrários. O irracionalismo pode aplicar-se apenas a um setor do conhecimento humano. Por exemplo, podemos ser irracionalistas morais. Assim, julgamentos morais sobre como agir, o que fazer, o que é certo e errado são arbitrários, não temos uma razão para eles, eles não se fundam em nada que possa legitimá-los diante dos outros. Podem ser fomentados por nossas emoções ou desejos, mas nada disso tira a sua arbitrariedade diante da razão. Chegaríamos ao irracionalismo moral se tivéssemos razões para pensar que não há nada na razão que pudesse amparar julgamentos morais. Isto é, dado um dilema moral do tipo "devo fazer X ou ~X", não há ao que apelar racionalmente para decidir a questão. Donde se seque que, qualquer decisão que você tomar, seja a favor de X, seja de ~X, será arbitrária. Como poderia a razão ser tão indiferente à moralidade? Primeiro vejamos o que conferiria autoridade racional a um julgamento moral, pois ...
Comentários
neste caso o "ato de dizer algo" deveria ter sido suprimido em sua ação, segundo teu raciocínio. Quando se suprime aquilo que se ia dizer temos então mais um algo envolvido, como chamaria a isto sem que o nomeasse como "pensamento"?
beijo beijo
Diria que o pensamento é o algo que eu posso ou não dizer. Posso suprimir a ação de dizer algo, mas se suprimir esse algo, não me parece que irá restar alguma coisa. Um pensamento vazio sem conteúdo?