Pessoas criadoras geralmente não são caridosas. Gandhi talvez seja uma exceção. Os outros são um bando de excentricos: Nietzschie, Kant, Wittgenstein e dezenas de cientistas que realmente produziram algo de notável não exerceram, por outro lado, humanidade ao se doar. Pode-se dizer que se doaram às idéias, à criação. Doaram-se ao ser humano ideal, ao projeto de um mundo melhor. Mas não se doaram ao outro. A questão ética que me coloco é se não seria melhor, não para um projeto de mundo, mas para o mundo real, sentido, verdadeiro, ali presente para os sentidos, se aprendêssemos a nos doar um pouco mais aos outros. Começa em casa, distribuindo atenção aos pais, irmãos e filhos, escolhendo estar mais com eles e escutá-los ao invés de estar sempre com o "projeto" de um mundo melhor ou qualquer qualificação grandiosa que se queira dar para as criações ideais. Este mundo provavelmente seria menos próspero, mas eu começo a pensar que ele seria muito mais humano. E desespero em me ver completamente desumano.
Voltei ao assunto da ética da crença (veja aqui a minha contribuição anterior 194 ) para escrever um texto que possivelmente será publicado como um verbete em um compêndio de epistemologia. Nesta entrada, decidi enfatizar três maneiras pelas quais a discussão sobre normas para crer se relaciona com a ética, algo que nem sempre fica claro neste debate: (1) normas morais servem de analogia para pensar normas para a crença, ainda que os domínios normativos, o epistêmico e o moral, sejam distintos; (2) razões morais são os fundamentos últimos para adotar uma norma para crer e (3) razões morais podem incidir diretamente sobre a legitimidade de uma crença, a crença (o ato de crer) não seria assim um fenômeno puramente epistêmico. O item (3) representa sem dúvida a maneira mais forte pela qual, neste debate, epistemologia e ética se entrelaçam. Sobre ele, abordei sobretudo o trabalho da Rima Basu que, a meu ver, é uma das contribuições recentes mais interessantes e inovadoras ao debate da ét...
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