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Mostrando postagens de fevereiro, 2009

[117] Ceticismo e o cético

1. A resposta contextualista. Trata-se de uma resposta que dá razão tanto ao cético quanto ao homem ordinário. O homem ordinário está certo ao exigir pouco da justificação e do conhecimento, pois os contextos em que ele se justifica e conhece são contextos em que a atribuição de justificação e conhecimento não demanda a eliminação da possibilidade de erro. Em outras palavras, é como se o contextualista estivesse dizendo que há distintos usos de 'justificar' e 'conhecer'. Teríamos, então, se usássemos termos distintos, o 'justificar_cético' e o 'justificar_ordinário'. O critério para a aplicação do 'justificar_cético' envolve a eliminação da possibilidade de erro. O critério para a aplicação do 'justificar_ordinário' é, curiosamente, até mais complicado, envolve, para cada situação ordinária, eliminar as possibilidades de erro relevantes para aquela situação. Apesar de o critério de 'jusitifcar_ordinário' ser mais complexo, por sor

[116] Defeaters

Há justificação prima facie , isto é, algumas razões não carecem de justificação até que sejam (defeated) canceladas por outras razões. Há, no entanto, duas maneiras de uma razão ser cancelada: se ela é uma razão prima facie , então ela só será cancelada por uma razão não-cancelada que a nega. Se ela não é uma razão prima facie , então ou ela é cancelada por uma razão não-cancelada que a nega, ou  a inferência que lhe servia de suporte é cancelada. O primeiro tipo de defeater Pollock chama de "rebutting defeater", o segundo, de "undercutting defeater". Exemplo do primeiro defeater: eu estar alucinando (e preciso ter razões não-canceladas para estar alucinando) é um cancelador (rebutting defeater) para a minha crença justificada prima facie de que vejo um lápis verde.  Exemplo do segundo: o ambiente ter luzes vermelhas é um cancelador (undercutting defeater) para a inferência de que vejo algo vermelho, mas não é um cancelador (rebutting defeater) para esta crença, j

[115] a priori vs. a posteriori.

A distinção entre a priori vs. a posteriori é uma distinção epistêmica, isto é, ela marca maneiras distintas de se conhecer. Se uma proposição é conhecida a priori, então a sua verdade é justificada ou apreendida sem apelo à experiência. Se ela é conhecida a posteriori, então a sua verdade é justificada com base na experiência. Obviamente, a clareza da distinção depende do quão claro e preciso é o nosso conceito de 'experiência'.  A distinção é precionada se aceitamos a tese KK. A tese KK afirma que [se eu sei que p, então eu sei que eu sei que p]. Assim, aplicada à distinção, se eu conheço a priori a verdade do enunciado E, então eu sei que eu conheço a verdade deste enuncaido a priori . Então saber algo a priori implica em saber que eu soube esse algo de modo a priori .  Não haveria, assim, a possibilidade de alguém conhecer algo a priori e não saber que o conheceu deste modo.  E, no entanto, o fato de eu saber sem qualquer apelo à experiência que '5 + 7 = 12' m

[114] Reconhecimento e Solidão Filosófica II

O reconhecimento é importante? A academia deveria reconhecer os trabalhos filosóficos genuínos feitos por alguns brasileiros? Tenho dúvidas em dizer que ela deveria, embora esteja certo que seria bom para ela se reconhecesse. Na perspectiva do autor, o reconhecimento da academia deveria ser indiferente para a sua persistência no filosofar, como já argumentei em [111] . Para ele é bom que seja reconhecido, enquanto pessoa, enquanto ego, mas não é ou não deveria ser necessário enquanto ser de existência filosófica. Quando lemos a entrevista do Da Costa , percebemos claramente que o reconhecimento das suas idéias não era um objetivo, não era essencial para aliviar as suas inquietações, somente a persistência no filosofar e o filosofar mesmo podiam aliviar as suas inquietações. Que muitas de suas palestras tenham sido canceladas nos anos 60 não causou um cisco na sua convicção de que estava no caminho certo e de que, para ser fiel à sua existência filosófica, deveria continuar trilhando-

[113] Filosofia Brasileira II

Almejamos que a filosofia no brasil se transforme no futuro em filosofia do brasil, isto é, almejamos que os estudos filosóficos feitos em território brasileiro se transformem no futuro em estudos filosóficos que expressam filosofias genuínas. Esta é a meta. É uma meta que, vamos supor, é compartilhada, embora com diferentes graus de consciência, por professores e alunos. Dados o fato de alunos e professores terem diferentes graus de compreensão quanto ao significado desta meta e a meta ela mesma, podemos nos perguntar: o que deve cada professor e aluno fazer em razão desta meta? Que a resposta não seja a mesma em cada caso parece evidente. Pode-se dizer que o professor é mais responsável que o aluno para a obtenção da meta, uma vez que tem dela um entendimento mais profundo. Além disso, eles possuem meios diversos para a obtenção da meta. Assim, a maneira como professores e alunos devem empregar estes meios difere. O que o professor pode e deve fazer? Ele deve, antes de mais nada, ten

[112] Filosofia Brasileira

"Filosofia brasileira" não deveria ser confundida com "filosofia do Brasil", se, por esta expressão, entendemos filosofia feita sobre o Brasil, sobre questões culturais-existenciais brasileiras. É curioso, pois quando se fala em filosofia francesa ou inglesa, ninguém pensa automaticamente que se esteja referindo a filosofias sobre aspectos da cultura francesa ou inglesa. "Filosofia francesa" quer dizer apenas filosofia feita por franceses. "Filosofia brasileira" também deveria dizer algo semelhante, ou seja, filosofia feita por brasileiros. Que filosofia? Qualquer uma, não importa, desde que seja filosofia e não apenas um comentário sobre filosofia ou uma história da filosofia. Se alguém cita Flusser, Roberto Gomes e Bazzo como exemplos de filosofia brasileira, mas não cita Claudio Costa, Décio Krause e Newton da Costa e até resiste em fazê-lo, então essa pessoa claramente confunde "filosofia brasileira" com "filosofia do brasil&qu

[111] Reconhecimento e Solidão Filosófica

Não é a sua necessidade por reconhecimento que deveria motivá-lo a argumentar em favor das suas idéias, mas sim a sua crença justificada de que as suas idéias podem levar compreensão ao outro, supondo-se, é claro, que a compreensão é sempre um bem. Não pode acontecer de uma compreensão, da apreensão de uma verdade, ser, para uma pessoa, completamente maléfica para o seu viver presente e futuro, não havendo, assim, nenhuma virtude intrínsceca em lhe revelá-la? Difícil, no entanto, descobrir estes casos antes do ocorrido. A verdade é a finalidade da inquirição, mas nem todos têm por objetivo uma vida inquisitiva, podem, ocasionalmente, adotar a postura inquisitiva em virtude de outros objetivos para os quais ela se mostra relevante. A postura inquisitiva terá para estas pessoas apenas o aspecto de meio e talvez apenas um meio entre outros. Como disse outro dia, o que define o filósofo é a sua curiosidade exagerada, mas é simplesmente falso que a curiosidade seja igualmente distribuída en

[110] Comprometimento e Eus-Solitários

Tenho um comprimisso comigo e com os outros, o de fazer bem a mim e a eles. É difícil não ver o bem como algo a ser perseguido e distribuído tanto a mim quanto aos outros. Às vezes, devo perseguir o bem dos outros mesmo quando ele implica algum mal para mim, desde que esse bem aos outros seja relativamente maior ao mal que ele me implica. Quem não quer assim se comprometer com os outros, por achar demasiado sacrifício de si, simplesmente não deve e não pode se relacionar com os outros. Deve escolher a trilha solitária em que o bem de si jamais envolve o bem dos outros. É uma escolha possível, que, no entanto, envolve desevencilhar-se de sua pessoalidade, envolve ver-se como algo que não é uma pessoa. O Eu-solitário pode se revoltar diante do meu 'deve' categórico. Esse eu indignado dirá-me que não aceita essa obrigação, que se relacionará com os outros sim, mas, quando em conflito entre o seu bem e o dela, optará sempre, em qualquer situação, pelo seu bem. Pode até acontecer de