Há justificação prima facie, isto é, algumas razões não carecem de justificação até que sejam (defeated) canceladas por outras razões. Há, no entanto, duas maneiras de uma razão ser cancelada: se ela é uma razão prima facie, então ela só será cancelada por uma razão não-cancelada que a nega. Se ela não é uma razão prima facie, então ou ela é cancelada por uma razão não-cancelada que a nega, ou a inferência que lhe servia de suporte é cancelada. O primeiro tipo de defeater Pollock chama de "rebutting defeater", o segundo, de "undercutting defeater".
Exemplo do primeiro defeater: eu estar alucinando (e preciso ter razões não-canceladas para estar alucinando) é um cancelador (rebutting defeater) para a minha crença justificada prima facie de que vejo um lápis verde. Exemplo do segundo: o ambiente ter luzes vermelhas é um cancelador (undercutting defeater) para a inferência de que vejo algo vermelho, mas não é um cancelador (rebutting defeater) para esta crença, já que não é uma razão para que o que vejo não seja vermelho.
A afirmação inicial, "Há justificação prima facie", já indica que a proposta é incompatível com certas versões ou formulações do ceticismo, pois dizer que há justificação prima facie é o mesmo que dizer que é racionalmente aceitável ter razões que não só não sejam infalíveis, mas que podem ser contestadas e para quais inicialmente não há qualquer razão em favor a não ser o fato de não ter contra elas qualquer razão. A mera possibilidade de que não-p não é um defeater para a crença p, mas, no cenário cético, a mera possibilidade de que não-p mina a infalibilidade da crença p e, para alguns céticos, até a razoabilidade de se crer em p.
Veja também [106], onde discuto a dimensão inferencial da justificação prima facie. j é uma razão prima facie para p não demanda que j implique não-não-p. Sendo assim, j não elimina a possibilidade de que não-p. Mas infere-se p de j cancelavelmente. É por isso que as lógicas não-monotônicas são tão desejáveis. Elas são necessárias para modelar o raciocínio com defeaters.
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