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Mostrando postagens de maio, 2006

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Toda paixão, com efeito, por mais etérea que possa parecer, na verdade enraíza-se tão somente no instinto natural dos sexos; e nada mais é que um instinto sexual perfeitamente determinado e individualizado. (Schopenhauer) Esta é, basicamente, a tese que Schopenhauer desenvolve no seu livro "Metafísica do Amor". O amor tem um fundamento, o instinto dirigido à perpetuação da espécie. Eu não duvido da acuidade biológica desta afirmação. É bem provável que todos os sistemas neurais que possibilitam as sensações e experiências amorosas tenham sido selecionados naturalmente. Também não duvido que o meu faro sexual seja dirigido pelo instinto. Eu só acho que o nome do livro deveria ser "A biologia do Amor". Saber qual é a causa do amor não nos ajuda em absolutamente quase nada para saber como é o amor e os significados que ele pode vir a ter para a existência humana. O que muda na minha vida enquanto vivo um amor? E depois de vivê-lo, que impressões ele deixa? Que novos ho

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Quanto mais consciência houver, tanto mais eu haverá. Pois que, quanto mais ela cresce, mais cresce a vontade, e haverá tanto mais eu quanto maior for a vontade. Num homem sem vontade, o eu é inexistente. Todavia, quanto maior for a vontade maior será nele a consciência de si mesmo (Kierkegaard) . Sim. Mil vezes sim. Um homem em um rio. Ele tem uma escolha. Nadar contra a correnteza ou deixar-se levar por ela. A força que precisa fazer para ir contra o rio é a medida da sua vontade. A física aqui é clara. A reação do rio ao seu ímpeto dar-lhe-á a consciência corpórea da sua própria força. Aquele que se deixa levar pela correnteza, ao contrário, não sente um movimento sobre si e, portanto, não tem como se perceber. A escolha do homem no rio é completamente visível àqueles que permanecem na margem. Sua resistência à correnteza fa-lo-á se destacar do próprio rio, ele cavalga sobre as águas. Aqueles que se deixam levar, ao contrário, submergem e se confundem com o caldo da correnteza. Não

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Vou supor, para ser breve, que o conhecimento implica a certeza. Se eu sei que p, então estou certo que p. Se lermos "estou certo que p" como uma expressão de sucesso, então a certeza implica o conhecimento. Se eu estou certo que p, então eu sei que p, já que não posso estar em erro. Por outro lado, se lermos "estou certo que p" como uma expressão do grau de convicção, então a certeza não implica o conhecimento. Posso ter as melhores evidências em favor de p que consigo imaginar e sentir-me completamente convicto de que p, mas ainda assim, é possível que eu esteja em erro e, portanto, não saiba que p. Vamos agora ao assunto que me interessa. É possível uma decisão sem arrependimentos? Sim, se ela estiver baseada no conhecimento. Mas acredito que ela também seria possível mesmo que estivesse baseada na convicção. Vamos supor que fiz o melhor de mim ao reunir as evidências e, assim, atingi o grau máximo de convicção que poderia, naquela situação, conceber. Neste caso,

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O arrogante convence, pois consegue transmitir a sua convicção pessoal. Seu brado ecoa nas mentes alheias como uma certeza inabalável. Imagino que nestas mentes a força da locução é confundida com a justificação. Nada mais distante da verdade! Estou, contudo, sendo injusto, nem todo arrogante convence pela arrogância. Muitos, de fato, sabem e são capazes de transmitir razões junto com as suas convicções. Palmas para eles. Outros, no entanto, confiam na sua força locutora e se arrogam o direito de convencer apenas no grito. É assim! Não seja idiota! O xingamento melindra o interlocutor não-arrogante que, se não aceita de imediato a convicção do arrogante, também não a contesta. O não-arrogante teme parecer imbecil. Nisto, o arrogante tira vantagem, ele não teme errar, pois, na sua visão de si, ele não erra. Um interlocutor que se deixa melindrar pelo brado alheio e teme parecer imbecil é mesmo um imbecil. O interlocutor ideal não se deixa levar pela percepção que a plateia tem do seu co