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Mostrando postagens de outubro, 2005

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Sexto Empírico tem o seguinte argumento contra hipóteses que ele atualmente não tem como contrabalancear: ora, embora agora não se tenha nenhum argumento contra T e nem mesmo se possa conceber tal argumento, isto não implica que amanhã não estaremos em condições de elaborar este argumento, da mesma forma como, em tempos passados, não víamos como contrabalancear P e hoje concebemos como fazê-lo. Podemos desenvolver melhor este argumento do Sexto. (1) O horizonte do possível e o horizonte do concebível não são coextensivos. Nem tudo que concebemos é possível. E é possível que algumas possibilidades não sejam concebíveis. Estão além das nossas capacidades conceituais. (2) Só podemos acessar possibilidades através do que concebemos, ou seja, através de nossas capacidades conceituais. (3) Não há uma intuição intelectual das possibilidades. Temos de pensá-las, concebê-las. (4) Há, portanto, entre nós e o horizonte das possibilidades o véu do concebível. (5) A evidência mais forte que podemos

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Alguma tese não deve ser discutida? Curiosamente, tenho a impressão que só faz sentido defender que determinadas teses morais não devem ser discutidas se mantemos uma concepção não-cognitiva dos valores. Se valores não possuem uma dimensão cognitiva, ou seja, se a aceitação ou não de um valor não é influenciada reflexivamente por informações que um sujeito possa vir a adquirir, então teorias morais que impliquem a rejeição dos nossos valores autalmente primordiais não devem ser discutidas, já que esta discussão pode vir a influenciar causalmente, mas não reflexivamente, na rejeição dos valores atuais. Mas, então, poder-se-ia replicar: por que mudar de valores seria algo necessariamente ruim? Aí depende do valor implícito que você já possui a respeito da mudança de opinições e valores. Se já aceito que não se deve mudar os valores primordiais e valores não têm uma dimensão cognitiva, então realmente faz sentido defender que teses contrárias ao valores primordiais não devem ser defendid

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Visão tradicional: um conceito é caracterizado pela sua definição. A definição de um conceito envolve as características que juntas são necessárias e suficientes para que um indivíduo seja uma instância deste conceito. Esta visão não se ajusta bem a alguns dados empíricos. Fenômeno da tipicalidade. As pessoas tendem a julgar se um ítem pertence ou não a uma determinada categoria conforme ele esteja mais ou menos próximo de um outro ítem considerado típico para esta categoria. Em geral, as pessoas não aplicam a definição do conceito ou categoria para determinar a inclusão ou não do ítem considerado. Pela visão tradicional, dado um ítem x, ou o conceito A se aplica ele, ou não se aplica. A lei do terceiro excluído é rigorosamente empregada. Mas a vida real não é assim. Para alguns casos limítrofes, as pessoas às vezes aplicam A à x, mais tarde, no entanto, aplicam não-A à x e, em outras ocasiões aplicam A e B à x, sendo todo B um não-A. O mais normal é as pessoas fazerem julgamentos prob

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Dialética para o empirismo. O conhecimento provém dos sentidos. Mas os sentidos são mudos, são, digamos, cegos sem conceitos. Parece, então, que estamos confinados às crenças. Sensações causam crenças, mas não as justificam. Isto cheira à ceticismo. Volta ao empirismo I: percepções já embutem conceitos. Logo, percepções podem justificar crenças. Figuras do tipo L-P sugerem essa abordagem conceitualista da percepção.Volta ao empirismo II: se percepções já embutem conceitos, então as preocupações céticas que temos relativamente ao circulo de crenças também se aplicam à percepção. Precisamos de algo mais forte. Percepções representam, ela têm condições de correção, mas sem conceitos. Logo, elas justificam crenças, são o nosso canal direto de informações sobre o mundo. O fenômeno da ilusão sugere essa abordagem não-conceitualisa da percepção. Possível falácia: nem tudo que é veiculado por conceitos é doxástico. Conceitos são necessários para a crença, mas disto não se segue que toda repre

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Conteúdo não-conceitual df. = o conteúdo N é não-conceitual se S estar no estado E de conteúdo N não implica que S possua os conceitos que descrevem N. Pela definição podemos já vislumbrar o chamado problema do conceito na questão sobre o que são conteúdos não-conceituais. Conforme o conceito de conceito abarcar mais ou menos coisas, teremos menos ou mais coisas sob a rúbrica de conteúdo não-conceitual . Se até a capacidade de discriminar e identificar (não estamos ainda no estágio do reconhecimento) for considerada uma habilidade conceitual, então sobrará poucos conteúdos para serem eleitos à não-conceitualidade. Talvez apenas as informações de Drestke. Conceitos estão presentes em julgamentos. Conceitos são evocados para explicar as nossas habilidades inferenciais. São gerais o bastante para atender o princípio da generalidade de Evans. Mas serão conceitos sempre a-contextuais? É possível uma representação ser geral e ter o seu conteúdo fixado apenas em determinados contextos? Sim.

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Qual a duração de uma experiência perceptiva? Uma coisa é certa: sua duração é menor que o tempo requerido para que uma representação possa servir de premissa em um argumento. Eu posso ver que o vermelho-51 é diferente do vermelho-52, mas instantes depois, se me mostrarem um vermelho-52, não sei dizer se se trata do primeiro ou do segundo vermelho vistos inicialmente. A representação perceptiva do vermelho dura apenas enquanto o objeto vermelho está diante dos meus sentidos. E a memória do vermelho não seria a confirmação de que esta representação pode durar mesmo quando o objeto está ausente? Não, a memória do vermelho é uma representação resultante de um módulo mental que tem por entrada a representação perceptiva. Prova disto é que uma memória jamais é tão rica em detalhes quanto uma percepção. Memorizar é abstrair. Uma inferência demanda um conteúdo relativamente duradouro por duas razões: (i) para que o conteúdo da premissa se veja refletido no conteúdo da conclusão ele precisa pe

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Não se deve pagar por uma idéia filosófica mais do que ela vale. Devemos entender que o valor de uma idéia filosófica é tudo aquilo e somente aquilo que é estritamente necessário para a sua defesa. Suponhamos que o filósofo A quer defender a idéia X e que P é necessário e suficiente para a defesa de X. O filósofo A, então, mostra R, que, por sua vez, implica P. Ora, o filósofo A comprou a idéia X por um valor mais caro do que ela vale. X custa apenas P e o filósofo A pagou R por ela. P veio junto com R, mas certamente pode ter vindo outras coisas nada desejáveis também. E o filósofo A terá de prestar contas disso também. O bom filósofo é cuidadoso quando vai ao mercado de idéias. Além de selecionar as melhores, só leva para casa o que precisa, evitando, assim, dores de cabeça.