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Mostrando postagens de 2005

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Blindsight ou visão-cega, por mais paradoxal que soe, nada mais é do que visão residual sem consciência. Explico-me, uma pessoa cuja área V1 do cérebro foi lesada perde a capacidade de ter experiências visuais em uma certa porção do seu campo visual, mas ela não perde a capacidade de ser sensível às informações que normalmente gerariam experiências nesta porção do campo. Isto significa minimamente que nem toda função visual depende da consciência visual. É possível "ver" sem ver. Os portadores de blidnsight não experimentam a sua lesão como um buraco negro em seu campo visual. É como se, da noite para o dia, a "janela visual" fosse diminuida de tamanho. Prosopagnosia é a condição na qual o sujeito não é capaz de reconhecer faces, distinguir rostos familiares de estranhos. Esta falha já não é perceptiva, mas mnemônica, pois estas pessoas são ainda capazes de discriminar uma face da outra, notar suas diferenças. Estes casos servem para evidenciar que a capacidade de d

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O que faz o filósofo, qual a sua especialidade? Eu diria metaforicamente que o filósofo é mestre em separar grãos de areia. Ele é capaz de tomar dois grãos em seus dedos, notar suas semelhanças e pincelar as suas diferenças, quando nem mesmo o melhor dos microscópios é capaz de dar ao homem comum essa percepção. Substitua agora os grãos pelos conceitos e terás uma imagem literal do que faz o filósofo. Ele é um fazedor de distinções, um meta-lingüístico por excelência. Para o filósofo, a linguagem é uma floresta a ser devastada. Mal sabe ele que a sua atividade é ecologicamente correta: ele devasta semeando. Quando olha para trás, uma floresta ainda mais densa emergiu onde ele pensava ter deixado apenas poeira. Assim, podemos concluir que os filósofos formam a única categoria profissional que gera, no seu próprio exercício, a demanda pela sua existência.

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A experiência de X me fornece pelo menos o conhecimento da localização de X, e qualquer pessoa capaz de ter a experiência de X tem a capacidade de localizar X. Implicita e indiretamente, a experiência de X também fornece o conhecimento da existência de X. Essas cognições perceptivas não precisam envolver conceitos ou a capacidade de representar X com elevado grau de abstração ou generalidade . Conceitos aparecem apenas quando começamos a enriquecer a nossa concepção de X, quando começamos a adquirir conhecimentos relacionais de X, ou seja, quando X é colocado em relação com outras coisas e eventos.

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Pessoas criadoras geralmente não são caridosas. Gandhi talvez seja uma exceção. Os outros são um bando de excentricos: Nietzschie, Kant, Wittgenstein e dezenas de cientistas que realmente produziram algo de notável não exerceram, por outro lado, humanidade ao se doar. Pode-se dizer que se doaram às idéias, à criação. Doaram-se ao ser humano ideal, ao projeto de um mundo melhor. Mas não se doaram ao outro. A questão ética que me coloco é se não seria melhor, não para um projeto de mundo, mas para o mundo real, sentido, verdadeiro, ali presente para os sentidos, se aprendêssemos a nos doar um pouco mais aos outros. Começa em casa, distribuindo atenção aos pais, irmãos e filhos, escolhendo estar mais com eles e escutá-los ao invés de estar sempre com o "projeto" de um mundo melhor ou qualquer qualificação grandiosa que se queira dar para as criações ideais. Este mundo provavelmente seria menos próspero, mas eu começo a pensar que ele seria muito mais humano. E desespero em me ve

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A tese não-conceitualisa forte afirma que alguns conteúdos perceptivos não podem ser captados por conceitos e a tese não-conceitualista fraca afirma que, em alguns casos ao menos, não é necessário ter o conceito F para se ter a experiência de um F. O Conceitualista forte defende que sempre se deve ter o conceito F para se ter a experiência de um F. Já o fraco afirma que não há um conteúdo perceptivo que não possa ser captado por meio de conceitos. Tenho a impressão que alguns conceitualistas inferem o conceitualismo forte do fraco. Isto é, eles acham que se mostrar que qualquer conteúdo perceptivo pode ser captado por conceitos, então este conteúdo é essencialmente conceitual. Mas isto é claramente falso, a não ser que se defina "conceitual" como qualquer coisa que possa vir a ser captado por meio de conceitos. Parece-me perfeitamente razoável que o conteúdo perceptivo possa estar representado por meio de uma outra estrutura, não-conceitual, sem que isso impeça que ele seja

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O conteúdo x sofre influência doxástica se e somente se x é determinado em funçao de crenças. O conteúdo x sofre influência doxástica se e somente se a determinação de x é o resultado de algum processo mental que tem crenças como entrada e o conteúdo x como saída. A segunda opção parece mais interessante.

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Fiquei pensando em algum sentido para a frase “o mundo é consistente” e não achei um enquanto não traduzi essa frase para uma outra em que o predicado “consistente” fosse usado explicitamente na sua forma relacional. Vejamos alguns desdobramentos. a) existe pelo menos um x e um y tal que x é consistente com y (vou desconsiderar aqui a tese mais trivial de que x é consistente consigo mesmo). Predicado “consistente” aplicado a entidades linguisticas: b) x é consistente com y se e somente se x não implica ~y e y não implica ~x. Por analogia, podemos formular o predicado “consistente” aplicado à entidades físicas, notadamente, fatos: c) o fato f é consistente com o fato g se e somente se a ocorrencia de f não impossibilita fisicamente a ocorrencia de g e a ocorrencia de g nao impossibilita fisicamente a ocorrencia de f. Vamos agora à tese de que há inconsistência no mundo (perceba que não estou dizendo que o mundo é inconsistente, mas sim que ele comporta algumas inconsistências): (I) Pro

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Sexto Empírico tem o seguinte argumento contra hipóteses que ele atualmente não tem como contrabalancear: ora, embora agora não se tenha nenhum argumento contra T e nem mesmo se possa conceber tal argumento, isto não implica que amanhã não estaremos em condições de elaborar este argumento, da mesma forma como, em tempos passados, não víamos como contrabalancear P e hoje concebemos como fazê-lo. Podemos desenvolver melhor este argumento do Sexto. (1) O horizonte do possível e o horizonte do concebível não são coextensivos. Nem tudo que concebemos é possível. E é possível que algumas possibilidades não sejam concebíveis. Estão além das nossas capacidades conceituais. (2) Só podemos acessar possibilidades através do que concebemos, ou seja, através de nossas capacidades conceituais. (3) Não há uma intuição intelectual das possibilidades. Temos de pensá-las, concebê-las. (4) Há, portanto, entre nós e o horizonte das possibilidades o véu do concebível. (5) A evidência mais forte que podemos

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Alguma tese não deve ser discutida? Curiosamente, tenho a impressão que só faz sentido defender que determinadas teses morais não devem ser discutidas se mantemos uma concepção não-cognitiva dos valores. Se valores não possuem uma dimensão cognitiva, ou seja, se a aceitação ou não de um valor não é influenciada reflexivamente por informações que um sujeito possa vir a adquirir, então teorias morais que impliquem a rejeição dos nossos valores autalmente primordiais não devem ser discutidas, já que esta discussão pode vir a influenciar causalmente, mas não reflexivamente, na rejeição dos valores atuais. Mas, então, poder-se-ia replicar: por que mudar de valores seria algo necessariamente ruim? Aí depende do valor implícito que você já possui a respeito da mudança de opinições e valores. Se já aceito que não se deve mudar os valores primordiais e valores não têm uma dimensão cognitiva, então realmente faz sentido defender que teses contrárias ao valores primordiais não devem ser defendid

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Visão tradicional: um conceito é caracterizado pela sua definição. A definição de um conceito envolve as características que juntas são necessárias e suficientes para que um indivíduo seja uma instância deste conceito. Esta visão não se ajusta bem a alguns dados empíricos. Fenômeno da tipicalidade. As pessoas tendem a julgar se um ítem pertence ou não a uma determinada categoria conforme ele esteja mais ou menos próximo de um outro ítem considerado típico para esta categoria. Em geral, as pessoas não aplicam a definição do conceito ou categoria para determinar a inclusão ou não do ítem considerado. Pela visão tradicional, dado um ítem x, ou o conceito A se aplica ele, ou não se aplica. A lei do terceiro excluído é rigorosamente empregada. Mas a vida real não é assim. Para alguns casos limítrofes, as pessoas às vezes aplicam A à x, mais tarde, no entanto, aplicam não-A à x e, em outras ocasiões aplicam A e B à x, sendo todo B um não-A. O mais normal é as pessoas fazerem julgamentos prob

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Dialética para o empirismo. O conhecimento provém dos sentidos. Mas os sentidos são mudos, são, digamos, cegos sem conceitos. Parece, então, que estamos confinados às crenças. Sensações causam crenças, mas não as justificam. Isto cheira à ceticismo. Volta ao empirismo I: percepções já embutem conceitos. Logo, percepções podem justificar crenças. Figuras do tipo L-P sugerem essa abordagem conceitualista da percepção.Volta ao empirismo II: se percepções já embutem conceitos, então as preocupações céticas que temos relativamente ao circulo de crenças também se aplicam à percepção. Precisamos de algo mais forte. Percepções representam, ela têm condições de correção, mas sem conceitos. Logo, elas justificam crenças, são o nosso canal direto de informações sobre o mundo. O fenômeno da ilusão sugere essa abordagem não-conceitualisa da percepção. Possível falácia: nem tudo que é veiculado por conceitos é doxástico. Conceitos são necessários para a crença, mas disto não se segue que toda repre

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Conteúdo não-conceitual df. = o conteúdo N é não-conceitual se S estar no estado E de conteúdo N não implica que S possua os conceitos que descrevem N. Pela definição podemos já vislumbrar o chamado problema do conceito na questão sobre o que são conteúdos não-conceituais. Conforme o conceito de conceito abarcar mais ou menos coisas, teremos menos ou mais coisas sob a rúbrica de conteúdo não-conceitual . Se até a capacidade de discriminar e identificar (não estamos ainda no estágio do reconhecimento) for considerada uma habilidade conceitual, então sobrará poucos conteúdos para serem eleitos à não-conceitualidade. Talvez apenas as informações de Drestke. Conceitos estão presentes em julgamentos. Conceitos são evocados para explicar as nossas habilidades inferenciais. São gerais o bastante para atender o princípio da generalidade de Evans. Mas serão conceitos sempre a-contextuais? É possível uma representação ser geral e ter o seu conteúdo fixado apenas em determinados contextos? Sim.

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Qual a duração de uma experiência perceptiva? Uma coisa é certa: sua duração é menor que o tempo requerido para que uma representação possa servir de premissa em um argumento. Eu posso ver que o vermelho-51 é diferente do vermelho-52, mas instantes depois, se me mostrarem um vermelho-52, não sei dizer se se trata do primeiro ou do segundo vermelho vistos inicialmente. A representação perceptiva do vermelho dura apenas enquanto o objeto vermelho está diante dos meus sentidos. E a memória do vermelho não seria a confirmação de que esta representação pode durar mesmo quando o objeto está ausente? Não, a memória do vermelho é uma representação resultante de um módulo mental que tem por entrada a representação perceptiva. Prova disto é que uma memória jamais é tão rica em detalhes quanto uma percepção. Memorizar é abstrair. Uma inferência demanda um conteúdo relativamente duradouro por duas razões: (i) para que o conteúdo da premissa se veja refletido no conteúdo da conclusão ele precisa pe

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Não se deve pagar por uma idéia filosófica mais do que ela vale. Devemos entender que o valor de uma idéia filosófica é tudo aquilo e somente aquilo que é estritamente necessário para a sua defesa. Suponhamos que o filósofo A quer defender a idéia X e que P é necessário e suficiente para a defesa de X. O filósofo A, então, mostra R, que, por sua vez, implica P. Ora, o filósofo A comprou a idéia X por um valor mais caro do que ela vale. X custa apenas P e o filósofo A pagou R por ela. P veio junto com R, mas certamente pode ter vindo outras coisas nada desejáveis também. E o filósofo A terá de prestar contas disso também. O bom filósofo é cuidadoso quando vai ao mercado de idéias. Além de selecionar as melhores, só leva para casa o que precisa, evitando, assim, dores de cabeça.

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Como se pode observar, a maioria dos problemas arrolados por Michel Tye [16] remete à questão de como podemos encarar a experiência consciente como um fenômento natural, isto é, como podemos e se podemos tornar compatíveis a experiência subjetiva e a explicação naturalista do mundo. Hurley , em Consciousness in Action , arrola algumas outras questões que mercem atenção também, embora o foco aqui seja mais uma compreensão intrínseca da consciência e menos a sua relação com as ciências básicas. Vejamos as questões: 1) Qual a relação entre o tipo fenomênico e o tipo representacional, isto é, quando você tem a experiência de um quadrado vermelho, qual a relação entre o modo como o quadrado vermelho lhe aparece, sua quadratura e a sua vermelhidão, com aquilo que está representado na sua experiência, a saber, o quadrado vermelho? 2) O que faz com que a consciência esteja unificada ao longo do tempo? Como a unidade da consciência se relaciona com a identidade pessoal ao longo do tempo? 3) O q

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Os dez problemas da consciência , compilados por Michael Tye . 1) O problema da posse . Se dores e sensações são físicas, por que eu não posso ter a sua dor, assim como posso ter o seu carro? E por que dores e sensações não podem deixar de ter um possuidor, tal como uma casa abandonada? O que há de peculiar na experiência que faz com que ela tenha necessariamente uma perspectiva, um sujeito que a possua? 2) O problema da perspectiva subjetiva . Por que para compreender completamente como é o vermelho é preciso ter uma experiência do tipo vermelho? Não podemos saber como é ser um morcego? 3) O problema do mecanismo . Qual é o mecanismo biológico ou fisiológico responsável pela experiência do vermelho parecer de uma forma e não de outra? A questão não é saber qual mecanismo causa a experiência do vermelho. Mas sim qual mecanismo explica porque o vermelho aparece como vermelho e não como o verde, por exemplo. 4) O problema da causalidade . Se há uma explicação objetiva e física para todo

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Quando acaba a esperança, nos transformamos em bestas. Nesta condição, o ser humano deixa de planejar, o futuro não mais lhe interessa. Suas decisões passam a se basear apenas nos desejos imediatos. Sua racionalidade estratégia permanece, mas ela só é empregada para a obtenção de fins de curto prazo. Não ter esperança implica que cada instante seja percebido como a totalidade do tempo. O sujeito se fragmenta. Vira besta, amoral do seu ponto de vista, imoral, do nosso.

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O que se pode perceber aqui [13] é uma certa relativização do teste de Turing. Para os critérios da época, a Turka passou no teste. Somente uma mente humana poderia jogar xadrez. Se a Turka jogava, então ela refletia, em um algum nível, a mente humana. Talvez alguns, na época, estivessem até mesmo dispostos a atribuir consciência a ela. Temos aqui, hoje podemos dizer, um caso de dupla ignorância. Ignorância sobre em que consiste a atividade de jogar xadrez e ignorância sobre o funcionamento da mente. Não se sabia na época que a atividade de jogar xadrez poderia ser reduzida a uma função computável, isto é, uma função cuja entrada seria a configuração atual do tabuleiro e a saída uma jogada válida localmente ótima (uma solução globalmente ótima não tem solução em tempo polinominal). Ademais, desconheciam na época maiores detalhes do funcionamento da mente, o que ela poderia ou não fazer sem consciência. Neste cenário, era natural inferir que um ente capaz de jogar xadrez tinha caracterí

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Searle é mundialmente conhecido, por filósofos e cientistas, em razão da experiência de pensamento do quarto chinês . Nada de novo nesta experiência. Em 1769, Wolfgang von Kempelen já havia divertido as cortes europeias com algo similar. O engenheiro austríaco inventou a Turka , uma máquina autônoma capaz de jogar xadrez. Por muito anos, esta engenhoca provocou a curiosidade das pessoas. Jornais do mundo todo convidavam cientistas para que explicassem o seu funcionamento. Kempelen, evidentemente, não revelava as plantas do seu projeto. E a Turka era imbatível. A maioria dos enxadristas sucumbia diante dela. Décadas depois, soube-se da verdade. Dentro da Turka, havia um ex-combatente polonês cujas pernas tinham sido amputadas. A parte externa da engenhoca era cheia de mecanismos e roldanas que mechiam para lá e para cá dando a impressão de que a máquina realmente computava e jogava. Mas era Worousky, este mestre polonês, quem realizava as jogadas.

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Modelagem do cérebro por meio de grafos. Vértices: neurônios. Arestas: ligação sináptica entre dois neurônios. O grafo do cérebro é conectado? Se temos n neurônios, então, no mínimo, precisamos ter n-1 ligações sinápticas. Neste caso, ele seria fracamente conectado. Além disso, o percurso entre um neurônio e outro, em muitas situações, seria extremamente longo, o que implicaria em um baixo desempenho tanto na transmissão da informação, quanto na computação que depende dela. Qual seria o ponto ótimo do número de ligações sinápticas, de tal forma que o ganho de desempenho com esta quantidade de ligações compensasse o custo de se criar e mantê-las?

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Uma pessoa pode facilmente adquirir a competência para desenhar uma estrela de cinco pontas. No entanto, dificilmente esta pessoa conseguirá, sem o auxílio de régua e compasso, desenhar sucessivamente 10 estrelas idênticas. O sistema motor não tem esse grau elevado de efiência métrica. Este fato sugere também que talvez a representação mnemônica da estrela não tenha uma estrutura imagética. O que a pessoa retém são as relações topográficas. Se isto for verdade, então a lembrança de uma estrela não envolve apenas uma simples apresentação de uma imagem gravada; envolve sim a capacidade de imaginar, isto é, de construir uma imagem a partir das relações topográficas retidas. Lembrar é criar.

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Tropos de Agrippa, receita de bolo para minar pretensões alheias de conhecimento. 1. Tropo da discrepância -> Sobre qualquer assunto, sempre se pode discordar. Se A diz p, sempre haverá um B que diga não-p. 2. Tropo da relatividade -> relativização das afirmações a um ponto de referência. p é verdadiero para você. p é verdadeiro na sua cultura etc. Estes dois tropos colocam em questão a verdade da afirmação do nosso interlocutor, obrigando-o a fornecer justificativas ulteriores para a verdade do que diz. É isso que o cético quer. Os próximos tropos visam mostrar que a busca por estas justificativas está fadada ao insucesso. 3.Tropo da infinidade -> para cada justificação, o interlocutor é convidado a dar uma justificação para esta justificação e assim ad infinitum. 4.Tropo da Assunção-> Em algum lugar na série de justificações, o interlocutor se abstém dogmaticamente de fornecer novas justificações. Ele faz uma assunção, toma, sem menos, uma opinião como verdadeira. 5.Tropo

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Hábitos de pensamento são esculpidos pela cultura? Nisbett selecionou dois grupos de pessoas, um composto por americanos e outro por chineses. Ela apresenteu a esses dois grupos, simultaneamente, o resultado de duas pesquisas, ambas inventadas, mas este fato não era conhecido pelos indivíduos dos grupos: uma pesquisa afirmava que as pessoas que viveram mais que uma determinada idade tinham comido peixe e aves e uma segunda dizia que alimentar-se apenas de peixes e de aves era prejudicial. Diante das duas pesquisas em tensão, os americanos tenderam a radicalizar a sua inclinação em favor de uma delas. Os que achavam que a primeira era correta, diante da oposição da segunda, inclinavam-se com mais intensidade ainda em favor da primeira e o mesmo ocorria com aqueles que se inclinaram em favor da segunda. Já os chineses tiverem, em geral, um comportamento bem diferenciado. A maioria deles disse que nem a primeira, nem a segunda pesquisa estariam completamente corretas, mas que a verdade es

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"É milhões de vezes mais provável morrer de depressão do que de um remédio ou droga anti-depressivo" (Iván Izquierdo). Contudo, mesmo o depressivo ciente deste fato não pode ser considerado irracional se não procura ajuda médica. Visto que a morte lhe soa como um objetivo muito mais interessante que a vida, é muito mais sensato não procurar ajuda alguma.

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A relação da quantidade de sinapses com a inteligência (QI) segue uma curva de Gauss. Sinapses em demasia sobrecarregam os recursos energéticos do cérebro, dificultando a execução de tarefas cognitivas particulares que demandam a concentração destes recursos em áreas específicas. Sinapses de menos, por outro lado, impossibilitam a execução satisfatória dessas tarefas. O ponto ótimo se encontra em um meio termo. Muitos fenômenos da natureza têm uma distribuição normal. A seleção natural é um mecanismo que tende a criar fenômenos naturais com esta distribuição.

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A conclusão, discutida em [3] e [4] , de que as pessoas, em geral, não pensam logicamente é muito forçada. Ainda mais se "logicamente" é tomada na acepção de "ser racional". A racionalidade não se resume à capacidade de fazer inferências. Mais importante que o próprio ato de inferir é a realização de inferências adequadas à situação em que o indivíduo se encontra. Ou seja, não é suficiente, para um comportamento racional, que a inferência seja formalmente correta, é necessário também que ela seja relevante. Em alguns casos, a relevância pode ser um indício maior de racionalidade que a correção formal da inferência. A consideração da relevância nos permite perceber que raciocínios da forma Se A, então B B ---------------- Logo A. embora constituam falácias do ponto de vista formal, não devem ser encarados como encarnando um comportamento ilógico ou irracional, em situações cotidianas, contextualizadas. Como comentei em 3, a falácia acima pode ser razoavelmente explic

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O experimento referido em [3] foi formulado pelo psicólogo Peter Wason e ficou conhecido com o teste de seleção de Wason. O teste é simples. 4 cartas são dispostas com suas faces voltadas para cima. Essas cartas podem ter letras ou números em suas faces e contra-faces. Um exemplo seria a sequinte seqüência: A B 2 1 Pede-se, então, aos participantes do experimento, que digam qual o número mínimo de cartas que eles devem virar para verificar o enunciado: se a carta tem uma vogal na sua face, então o elemento na face oposta é par. O resultado surpreende é que aproximadamente 90% das pessoas escolhem as cartas A e 2, evidenciando a constância de um raciocínio que não se conforma com as condições de verdade da implicação material. A resposta correta é obviamente A e 1. Um enunciado da forma "Se A, então B" é falso apenas quando o antecedente é verdadeiro e o conseqüente é falso. Desta maneira, o enunciado a ser comprovado só será falso se a carta tiver a face A e a face oposta for

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Nunca dei muita pelota para os estudos psicológicos que buscam mostrar que o ser humano pensa ilogicamente. Há muito espaço para como interpretar os resultados destes experimentos, sem contar as condições em que eles geralmente são realizados. Mas essa semana eu pude constatar a dificuldade que as pessoas têm em lidar com a implicação material. Chega a ser espantoso. Minha conclusão é que as pessoas realmente caem com enorme facilidade na falácia do conseqüente. Ou seja, elas geralmente desenvolvem o seguinte raciocínio: Se A, então B B ------------- Logo A. Existe uma maneira muito simples de perceber que este raciocínio é inválido. Se substituírmos as premissas A e B, reespectivamente por "Se chove, então a rua está molhada" e "a rua está molhada", então podemos ver claramente que a conclusão "chove/choveu" não se segue das premissas. Afinal, um caminhão-pipa poderia ter passado pela rua e lançado água sobre ela. Notei também que as pessoas têm mais faci

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Vejamos o paradoxo da liberdade. Para que uma ação seja livre, é preciso que: 1) Ela seja o resultado de uma deliberação. Um evento mental consciente está na sua origem. Além disso, é necessário que este evento mental não seja causado por um evento anterior. Neste caso, a ação seria determinada pelo evento antecedente ao evento mental e, portanto, não seria livre. Deste modo, uma ação livre precisa ter na sua base um evento mental espontâneo. 2) Ela precisa ser realmente causada pelo evento mental. A decisão tomanda conscientemente deve determinar causalmente a ocorrência da ação. Posta esta definição de uma ação livre, é fácil perceber que tanto o determinismo quanto o seu contrário, isto é, a absoluta aleatoriedade dos eventos impossibilitam a existência de ações livres. Se o mundo é determinista, isto é, se para todo evento há um outro evento que lhe antecede e determina, então não há eventos espontâneos. Ou seja, a condição "1)" para que uma ação seja livre não é respeita

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Abaixo segue um exemplo da falácia do apostador. O lance de moedas é um sistema de apostas justo. A coroa saiu 10 vezes seguidas. ------------------------------ Há maiores chances de sair cara no próximo lance. Para entender o motivo que torna este argumento falacioso, precisamos de uma clareza maior sobre o que faz um sistema de apostas ser justo. Há basicamente duas exigências: não-viciado: o dispositivo não pode ser viciado. A moeda, por exemplo, permite a geração de dois tipos de eventos, cara e coroa. Para não ser viciada, a moeda precisa gerar estes eventos na mesma freqüência ao longo do tempo. Em 200 lances, espera-se que aproximadamente metade deles resulte em coroa e a outra metade em cara. independência: o dispositivo deve gerar eventos randômicos, ou seja, os eventos gerados anteriormente não podem influenciar ou determinar quais eventos serão gerados futuramente. Pode-se dizer também que o dispositivo não tem memória. O lançamento de moedas que sempre gerasse o evento coro