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Mostrando postagens de junho, 2007

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Solidão fabricada: emerge quando a sua razão fica febril o suficiente para aceitar a dúvida cética. Primeiro você corta o seu contato com o mundo, expulsando-se dele. Este efeito é obtido por um processo de inflação infinita do Eu. De uma hora para outra, você se apropria do mundo no qual habita, dizendo-lhe só seu, produto da sua subjetividade. Não apenas as suas sensações e percepções são suas, o que é óbvio, mas também o conteúdo delas, o que não era óbvio. O mundo, então, diminui na medida que cresce o Eu. Você está agora sozinho no seu próprio mundo, na sua matrix. O próximo passo, já implicado pelo primeiro, é duvidar que as pessoas ao seu redor, que agora nem são mais pessoas, ao menos não com corpos, mas sim fabulações mentais, tenham uma mente, que elas tenham emoções semelhantes às suas e possam, assim, compartilhar o que você sente. Seu egoísmo com respeito ao seu, sim, só seu, mundo é tão gritante que lhe parece absurda a idéia de que outra pessoa pudesse compartilhá-lo. Se

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Terceiro critério de solidão: quando, em uma conversa, você não se sente motivado a responder o(s) seu(s) interlocutore(s), em especial se essa falta de motivação deriva do fato de você não ver sentido na conversa em curso. Essa falta de sentido, em um ambiente de conversa, lhe dá a consciência da sua estranheza e conseqüentemente a consciência da sua solidão. Quanto mais restritivo você for quanto ao que dá sentido a uma conversa, maiores as chances de vir a se sentir só. A regra de prudência aqui talvez fosse não esperar que uma conversa tenha algum sentido ou propósito.

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Segundo critério de solidão: quando a paranóia ultrapassa os níveis de normalidade, quando percebe uma intenção agressiva até no bom-dia amigo.

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Um critério de solidão: quando você não pode dizer a verdade a quem está ao seu redor, qualquer que seja ela. Quanto menos puder dizer, mais só estará. Pior ainda se não puder dizer por incapacidade de compreensão do receptor.

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A esperança não é um comportamento natural como a dor, ela é construída culturalmente. Um bebê já nasce com a capacidade de manifestar a dor, mas não a esperança. No entanto, a expectativa já pode ser observada na mais tenra infância e servir de base para o comportamento mais complexo da esperança. A expectativa envolve a capacidade de representar algo que não existe ou um evento que ainda não ocorreu. A expectativa desperta espanto, surpresa ou frustração quando o evento imaginando não ocorre como esperado. Ter a capacidade de pensar o futuro é uma condição necessária para a expectativa, mas não é suficiente para ela. Pode-se pensar um evento futuro sem esperá-lo. Seria, então, a presença do desejo de que o evento futuro ocorra a condição suficiente? Não estou certo, pois parece perfeitamente possível esperar um evento sem desejar que ele ocorra. A partir do que li no jornal hoje, tenho a expectativa de que fará calor amanhã. Ficarei surpreso se não fizer. Mas não desejo isso. Talvez

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O infeliz está para a esperança assim como o cego está para a bengala. No entanto, nem todo cego precisa de bengala e um não-cego pode muito bem usar uma por gosto e estilo.

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Não faz muito sentido esperar ou por um evento muito pouco provável, ou por um evento muito provável, se desconsiderarmos os benefícios que se pode obter com a ocorrência do evento. Sendo assim, uma espera é mais racional quanto mais a probabilidade de ocorrer o evento esperado estiver próxima de 0.5. Mas não se trata aqui da probabilidade objetiva e sim da probabilidade estimada, ou da probabilidade de um evento ocorrer relativamente ao conhecimento que o sujeito tem. Em outras palavras, um evento pode ter a probabilidade 1, mas, para um determinado sujeito, em virtude do que ele sabe, sua estimativa pode ser de que a probabilidade deste evento ocorrer seja 0.5. É racional que ele espere a ocorrência deste evento. Outro fator que pesa sobre a racionalidade da espera é o bem ou prejuízo que a ocorrência de um evento pode acarretar para um sujeito. Novamente, devemos entender o bem/prejuízo estimados. Quanto maior o bem decorrente de um evento, mais racional é a espera pela ocorrência d