A esperança não é um comportamento natural como a dor, ela é construída culturalmente. Um bebê já nasce com a capacidade de manifestar a dor, mas não a esperança. No entanto, a expectativa já pode ser observada na mais tenra infância e servir de base para o comportamento mais complexo da esperança. A expectativa envolve a capacidade de representar algo que não existe ou um evento que ainda não ocorreu. A expectativa desperta espanto, surpresa ou frustração quando o evento imaginando não ocorre como esperado. Ter a capacidade de pensar o futuro é uma condição necessária para a expectativa, mas não é suficiente para ela. Pode-se pensar um evento futuro sem esperá-lo. Seria, então, a presença do desejo de que o evento futuro ocorra a condição suficiente? Não estou certo, pois parece perfeitamente possível esperar um evento sem desejar que ele ocorra. A partir do que li no jornal hoje, tenho a expectativa de que fará calor amanhã. Ficarei surpreso se não fizer. Mas não desejo isso. Talvez a condição suficiente seja a sensação de angústia que acompanha o pensamento do evento futuro. Não, embora essa sensação acompanhe alguns pensamentos de eventos futuros, ela não acompanha qualquer pensamento de eventos futuros. Ela parece acompanhar apenas aqueles eventos futuros cuja ocorrência seja importante para nós, isto é, aqueles eventos que desejamos que ocorra ou, ao contrário, que desejamos que não ocorra. Mas já disse que pode haver expectativa sem desejo. Se não há como reduzir a expectativa a um pensamento em um evento futuro mais uma sensação como o desejo e a angústia, então as chances de que a própria expectativa seja uma sensação básica aumenta. Esperar um evento seria, então, de maneira semelhante ao desejo, um modo básico de se relacionar com um estado de coisas futuro. Outra possibilidade é dizer que a expectativa é não o pensamento, mas simplesmente a crença na ocorrência de um evento futuro, o que harmoniza bem com o fato sugerido acima de que a expectativa pode não ser acompanhada pelo desejo ou pela angústia.
A distinção entre contexto de descoberta e contexto de justificação é normalmente apresentada como marcando a diferença entre, por um lado, os processos de pensamento, teste e experimentação que de fato ocorreram em um laboratório ou em um ambiente de pesquisa e que levaram ou contribuíram para alguma descoberta científica e, de outro, os processos de justificação e validação dessa descoberta. Haveria, portanto, uma clara diferença entre descrever como cientistas chegaram a fazer certas alegações científicas, o que seria uma tarefa para as ciências empíricas, como a sociologia, a psicologia e a antropologia da ciência, e justificar essas alegações, o que seria uma tarefa para a epistemologia, uma disciplina normativa e não-empírica. Essa distinção é corriqueira em debates acerca do escopo da filosofia da ciência e teria sido explicitada inicialmente por Reichenbach. Contudo, quando examinamos a maneira como ele circunscreveu as tarefas da epistemologia, notamos que alguns elemento...
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