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Mostrando postagens de setembro, 2009

[156] Daltonismo, atribuição de conhecimento vs. ter conhecimento e ceticismo

Tomemos inicialmente um domínio bem restrito. Eu e fulano, que vou chamar de Awks, estamos diante de bolas verdes e vermelhas. Awks é daltônico. Quando Awks está diante de uma bola verde, ele diz que ela é verde. Mas quando ele está diante de uma bola vermelha, ele também diz que ela é verde. Ou seja, as duas bolas, para ele, são indistinguíveis quanto à cor. Há algumas situações que eu gostaria de distinguir: (1) Eu saber que Awks é daltônico; (2) Eu não saber que ele é daltônico; (3) Awks saber que é daltônico; e (4) Awks não saber que é daltônico. Chamemos uma das bolas que está diante de mim e de Awks de 'B' e B é verde. Se eu sei que Awks é daltônico, então faz sentido que eu diga para uma outra pessoa que Awks não sabe se B é verde ou vermelho. Mas o que eu posso dizer com sentido para Awks? Awks está diante de B e diz 'B é verde'. A afirmação de Awks é verdadeira, mas não é conhecimento, uma vez que ele diria o mesmo diante de uma bola vermelha. Falta-lhe a justi

[155] De quando a vaidade e a arrogância dão com os burros n'água

A falácia do sábio vaidoso. Se você desconhece um assunto, o que seria razoável dizer sobre o assunto? Absolutamente nada, ou, no máximo, a confissão do seu não-saber sobre tal assunto. Há, no entanto, aqueles que preferem fazer algo bem diverso. Diante de um assunto que desconhecem, para não ter de reconhecer o seu não-saber, optam por desclassificar este assunto através de ironia, cinismo e piadas. A tática é fazer com que o interlocutor perceba o assunto em questão como insignificante, irrelevante e desprezível, como não digno de qualquer atenção. Assim, não saber nada sobre este assunto não é um demérito, ao contrário, é uma virtude. O resultado almejado é deixar incólume a percepção que o seu interlocutor tem do seu vasto saber, na pressuposição, é claro, de que não saber algo depõe contra a sua sapiência e erudição. Por esta estratégia, muitos "sábios" permanecem parecendo sábios a despeito de sua vasta insipiência. Ou não. É evidente que esta estratégia só tem chances

[154] O que extrair da diafonia filosófica?

A passagem pela história da filosofia é, em grande medida, uma experiência cética, muito embora, não seja, em si mesma, um argumento robusto em favor do ceticismo, em especial um ceticismo que levante dúvida geral sobre a possibilidade de se obter conhecimento filosófico. Porém, esta experiência da diafonia certamente contribui para o reconhecimento de um ceticismo mais brando: é mais difícil chegar a um consenso em assuntos filosóficos que em assuntos físicos. Do que não se segue que seja impossível. Uma explicação para esta dificuldade mais acentuada é que a verdade filosófica é mais complexa ou difícil de ser obtida. Outra é que talvez ela não exista. A diafonia filosófica ela mesma, no entanto, não é mais evidência para uma do que para a outra explicação. Desta diafonia, a qual todos os filósofos são submetidos durante a sua formação, pelo menos aqueles que passaram por uma formação acadêmica, era de se esperar que estes mesmos filósofos extraíssem algumas regras de prudência, em

[153] Sem a substância pensante, o suicídio é imoral

Aquela aula também não me deixou ileso. Logo que deixei os alunos, ocorreu-me pensar que a inexistência de uma substância pensante ameaçava um direito que sempre me foi muito caro. Se tudo o mais está perdido, se o horizonte de sentido se estreita à nulidade, sempre pensei poder, em última instância, apelar para a minha aniquilação. A minha existência sempre apareceu-me como mais minha do que qualquer outra coisa, muito mais minha inclusive que os meus pensamentos, os quais, tenho de confessar, por mais que brotem em mim, quase sempre têm um ancestral causal bem fora de mim. Já a minha existência estaria ali sempre bem presente a mim, predicando o que quer que eu fosse, estampando-se para mim e dizendo-me: "eu sou tua, só tua". Não que ela fosse essencial ao meu ser, meinongianos que o digam, mas certamente necessitada pelo meu querer ser, pela minha vontade de estar aí. De onde mais poderia provir a razão mínima de ser da minha existência senão desta minha vontade de ser? Nã