A falácia do sábio vaidoso.
Se você desconhece um assunto, o que seria razoável dizer sobre o assunto? Absolutamente nada, ou, no máximo, a confissão do seu não-saber sobre tal assunto. Há, no entanto, aqueles que preferem fazer algo bem diverso. Diante de um assunto que desconhecem, para não ter de reconhecer o seu não-saber, optam por desclassificar este assunto através de ironia, cinismo e piadas. A tática é fazer com que o interlocutor perceba o assunto em questão como insignificante, irrelevante e desprezível, como não digno de qualquer atenção. Assim, não saber nada sobre este assunto não é um demérito, ao contrário, é uma virtude. O resultado almejado é deixar incólume a percepção que o seu interlocutor tem do seu vasto saber, na pressuposição, é claro, de que não saber algo depõe contra a sua sapiência e erudição. Por esta estratégia, muitos "sábios" permanecem parecendo sábios a despeito de sua vasta insipiência. Ou não. É evidente que esta estratégia só tem chances de funcionar em um público leigo, que, como o suposto sábio, não sabe nada sobre o assunto desclassificado. Se, ao contrário, o público alvo conhece o assunto que está sendo desclassificado pelo suposto sábio e, ao contrário do suposto sábio, reconhece a relevância do assunto, então, aos olhos do público, o suposto sábio parecerá triplamente tolo: 1) por ter considerado como irrelevante e desprezível um assunto que é relevante; 2) por ter presumido que o público é leigo no assunto e, por fim, 3) por ter pretendido manter a aparência de grande sapiência por um procedimento epistemicamente tão arriscado.
A falácia da autoridade arrogante.
Vejamos o seguinte diálogo entre uma Autoridade filosófica e um estudioso desconhecido de filosofia:
Autoridade: Mas o que se estuda aqui em filosofia da religião?
Estudioso desconhecido: Uma questão frutífera nesta área é a razoabilidade da crença em Deus, a qual filósofos como William Alston e Alvin Plantinga, por exemplo, se dedicam.
Autoridade: Nunca ouvi falar desses sujeitos.
Silêncio.
A Autoridade tem a seu favor justamente a sua autoridade e vale-se dela para desclassificar como relevantes os filósofos mencionados e, por tabela, desclassificar como relevante a questão da razoabilidade da crença em Deus. A força desta estratégia depende, obviamente, do que a Autoridade é autoridade. Se ela é uma autoridade em filosofia da religião, sua estratégia teria alguma relevância epistêmica, mas não muita. Se não é autoridade sobre o assunto, então estamos diante de uma falácia vergonhosa, pois se a Autoridade não é autoridade em filosofia da religião, a única conclusão que podemos extrair do seu desconhecimento da existência dos mencionados filósofos é que a Autoridade, embora autoridade em um assunto, é um completo leigo em filosofia da religião, pois se soubesse o mínimo sobre o assunto não teria dito o que disse. Suponhamos, pelo benefício da dúvida, que ela é uma autoridade em filosofia da religião. Qual a força da sua sentença: "nunca ouvi falar desses autores"? Sua força dependerá do que sabe o seu interlocutor. Se o estudioso desconhecido tem um razoável trato com a área de filosofia da religião, ao invés de concluir que errou em presumir que os referidos filósofos são relevantes na área, pode legitimamente inferir que, embora a Autoridade tenha uma reconhecida autoridade em um certo meio, talvez ela de fato não seja uma autoridade na área, pois, de outra forma, não teria dito o que disse. Se o estudioso desconhecido tem apenas um trato incipiente com a área, provavelmente suspenderá o conhecimento que achava ter da área diante da proclamação da Autoridade, caso em que a autoridade da Autoridade não é posta em questão. Disto fica claro que só é razoável para a Autoridade empregar esta estratégia se ela tem alguma razão para pensar que o público ao qual se dirige é leigo no assunto que ela pretende desclassificar, pois, de outro modo, ela corre o risco de colocar a sua própria autoridade em descrédito.
Lição: o arrogante corre um sério risco de ver-se levado ao auto-engano em virtude da sua própria arrogância. Ele tende a presumir com muita facilidade que o seu público é muito leigo relativamente a si, o que o faz se sentir seguro para utilizar estratagemas argumentativos que só seriam eficazes caso, de fato, o público fosse muito leigo relativamente a si. O que nos leva a um resultado interessante: o arrogante, para ser seguramente arrogante, precisa cercar-se de uma dose elevada de prudência, isto é, só é razoável (o que não significa que seja correto) despejar a arrogância se ela for previamente pautada pela prudência.
Se você desconhece um assunto, o que seria razoável dizer sobre o assunto? Absolutamente nada, ou, no máximo, a confissão do seu não-saber sobre tal assunto. Há, no entanto, aqueles que preferem fazer algo bem diverso. Diante de um assunto que desconhecem, para não ter de reconhecer o seu não-saber, optam por desclassificar este assunto através de ironia, cinismo e piadas. A tática é fazer com que o interlocutor perceba o assunto em questão como insignificante, irrelevante e desprezível, como não digno de qualquer atenção. Assim, não saber nada sobre este assunto não é um demérito, ao contrário, é uma virtude. O resultado almejado é deixar incólume a percepção que o seu interlocutor tem do seu vasto saber, na pressuposição, é claro, de que não saber algo depõe contra a sua sapiência e erudição. Por esta estratégia, muitos "sábios" permanecem parecendo sábios a despeito de sua vasta insipiência. Ou não. É evidente que esta estratégia só tem chances de funcionar em um público leigo, que, como o suposto sábio, não sabe nada sobre o assunto desclassificado. Se, ao contrário, o público alvo conhece o assunto que está sendo desclassificado pelo suposto sábio e, ao contrário do suposto sábio, reconhece a relevância do assunto, então, aos olhos do público, o suposto sábio parecerá triplamente tolo: 1) por ter considerado como irrelevante e desprezível um assunto que é relevante; 2) por ter presumido que o público é leigo no assunto e, por fim, 3) por ter pretendido manter a aparência de grande sapiência por um procedimento epistemicamente tão arriscado.
A falácia da autoridade arrogante.
Vejamos o seguinte diálogo entre uma Autoridade filosófica e um estudioso desconhecido de filosofia:
Autoridade: Mas o que se estuda aqui em filosofia da religião?
Estudioso desconhecido: Uma questão frutífera nesta área é a razoabilidade da crença em Deus, a qual filósofos como William Alston e Alvin Plantinga, por exemplo, se dedicam.
Autoridade: Nunca ouvi falar desses sujeitos.
Silêncio.
A Autoridade tem a seu favor justamente a sua autoridade e vale-se dela para desclassificar como relevantes os filósofos mencionados e, por tabela, desclassificar como relevante a questão da razoabilidade da crença em Deus. A força desta estratégia depende, obviamente, do que a Autoridade é autoridade. Se ela é uma autoridade em filosofia da religião, sua estratégia teria alguma relevância epistêmica, mas não muita. Se não é autoridade sobre o assunto, então estamos diante de uma falácia vergonhosa, pois se a Autoridade não é autoridade em filosofia da religião, a única conclusão que podemos extrair do seu desconhecimento da existência dos mencionados filósofos é que a Autoridade, embora autoridade em um assunto, é um completo leigo em filosofia da religião, pois se soubesse o mínimo sobre o assunto não teria dito o que disse. Suponhamos, pelo benefício da dúvida, que ela é uma autoridade em filosofia da religião. Qual a força da sua sentença: "nunca ouvi falar desses autores"? Sua força dependerá do que sabe o seu interlocutor. Se o estudioso desconhecido tem um razoável trato com a área de filosofia da religião, ao invés de concluir que errou em presumir que os referidos filósofos são relevantes na área, pode legitimamente inferir que, embora a Autoridade tenha uma reconhecida autoridade em um certo meio, talvez ela de fato não seja uma autoridade na área, pois, de outra forma, não teria dito o que disse. Se o estudioso desconhecido tem apenas um trato incipiente com a área, provavelmente suspenderá o conhecimento que achava ter da área diante da proclamação da Autoridade, caso em que a autoridade da Autoridade não é posta em questão. Disto fica claro que só é razoável para a Autoridade empregar esta estratégia se ela tem alguma razão para pensar que o público ao qual se dirige é leigo no assunto que ela pretende desclassificar, pois, de outro modo, ela corre o risco de colocar a sua própria autoridade em descrédito.
Lição: o arrogante corre um sério risco de ver-se levado ao auto-engano em virtude da sua própria arrogância. Ele tende a presumir com muita facilidade que o seu público é muito leigo relativamente a si, o que o faz se sentir seguro para utilizar estratagemas argumentativos que só seriam eficazes caso, de fato, o público fosse muito leigo relativamente a si. O que nos leva a um resultado interessante: o arrogante, para ser seguramente arrogante, precisa cercar-se de uma dose elevada de prudência, isto é, só é razoável (o que não significa que seja correto) despejar a arrogância se ela for previamente pautada pela prudência.
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