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Mostrando postagens de dezembro, 2008

[104] Da Onisciência

Se Ele sabe tudo o que há para ser sabido, então obviamente Ele pode fazer tudo o que é necessário para o que quer que possa ser sabido, o que, no entanto, não implica que ele tudo possa fazer, caso haja coisas que se possa fazer que não sejam necessitadas por algum saber. Não é evidente, assim, que onisciência implique onipotência. Porém, se saber for um tipo de fazer, então fica claro que a onipotência implica a onisciência. Humanamente falando, a perspectiva de imaginar alguém onisciente é desalentador. Se, por um lado, todo o desejo particular de saber é automaticamente satisfeito, por outro, o desejo de desejar saber será eternamente frustrado. Não é por outro motivo que, sob este aspecto, estamos bem longe de termos sido feitos a sua imagem e semelhança. Ele não deseja, ou, se deseja, o faz de uma maneira bem diversa da nossa, pulsiva. Digamos que ele não deseja senão motivado por razões. Como Ele tudo sabe, não há qualquer razão para ter o desejo de desejar saber. Assim, Ele não

[103] Liberdade e Indeterminismo

Em [93] discuti algumas intuições em torno da liberdade e da responsabilidade moral. Arrolei algumas razões tanto para a liberdade da espontaneidade quanto para a liberdade da indiferença. É difícil preferir uma em detrimento da outra, racionalmente. Vejamos, no entanto, o que é necessário mudar em nossa visão de mundo para sustentar a liberdade da indiferença. Em visões não-transcendentais e não-dualistas da liberdade da indiferença, o indeterminismo parece ser necessário. O indeterminismo é a tese de que alguns eventos físicos não são causados, mas inauguram no mundo uma nova série causal. Sendo o ato de volição ou ato de escolher, decidir, deliberar um evento físico, caso este evento seja não causado, isto é, indeterminado, segue-se que ele é livre segundo a liberdade da indiferença. E a ação resultante deste ato é também livre e sobre a qual o indivíduo é responsável. O indeterminismo gera, no entanto, um problema epistêmico. Dada uma ação qualquer, que também é um evento físico,

[102] Relativismo e Irracionalismo

Irracionalismo é a tese de que os nossos julgamentos são arbitrários. O irracionalismo pode aplicar-se apenas a um setor do conhecimento humano. Por exemplo, podemos ser irracionalistas morais. Assim, julgamentos morais sobre como agir, o que fazer, o que é certo e errado são arbitrários, não temos uma razão para eles, eles não se fundam em nada que possa legitimá-los diante dos outros. Podem ser fomentados por nossas emoções ou desejos, mas nada disso tira a sua arbitrariedade diante da razão. Chegaríamos ao irracionalismo moral se tivéssemos razões para pensar que não há nada na razão que pudesse amparar julgamentos morais. Isto é, dado um dilema moral do tipo "devo fazer X ou ~X", não há ao que apelar racionalmente para decidir a questão. Donde se seque que, qualquer decisão que você tomar, seja a favor de X, seja de ~X, será arbitrária. Como poderia a razão ser tão indiferente à moralidade? Primeiro vejamos o que conferiria autoridade racional a um julgamento moral, pois

[101] Quão liberal devemos ser?

Se você não sabe se é melhor ou mais correto fazer X que ~X, então por uma regra de justiça deve ser liberal quanto a quem faz X ou ~X, ainda que você tenha mais inclinação para X. Você deve ser tão mais liberal quanto menos certo estiver a respeito de fazer X ou ~X. Pode-se questionar a visão cognitiva aqui das regras morais. Talvez não haja algo para saber de acordo com o qual possamos determinar se uma regra é correta ou errada. Ainda assim, mesmo numa visão emotivista das regras, podemos dizer que você é tão mais liberal quanto menos reativo você for diante X ou ~X. A maioria das pessoas é muito reativa diante do assassínio e, por isso, são pouco liberais quanto ao assassinato. Quando o assunto é comer com mãos ou sem elas, a reatividade é baixa e, por isso, devemos ser mais liberais. Em se tratando de como se deve fazer filosofia, os filósofos, numa perspectiva cognitiva, devem ser liberais quanto ao filosofar, já que poucos sabem qual é a maneira correta de se filosofar. Na prá