Irracionalismo é a tese de que os nossos julgamentos são arbitrários. O irracionalismo pode aplicar-se apenas a um setor do conhecimento humano. Por exemplo, podemos ser irracionalistas morais. Assim, julgamentos morais sobre como agir, o que fazer, o que é certo e errado são arbitrários, não temos uma razão para eles, eles não se fundam em nada que possa legitimá-los diante dos outros. Podem ser fomentados por nossas emoções ou desejos, mas nada disso tira a sua arbitrariedade diante da razão. Chegaríamos ao irracionalismo moral se tivéssemos razões para pensar que não há nada na razão que pudesse amparar julgamentos morais. Isto é, dado um dilema moral do tipo "devo fazer X ou ~X", não há ao que apelar racionalmente para decidir a questão. Donde se seque que, qualquer decisão que você tomar, seja a favor de X, seja de ~X, será arbitrária.
Como poderia a razão ser tão indiferente à moralidade? Primeiro vejamos o que conferiria autoridade racional a um julgamento moral, pois aí talvez tenhamos a pista do que poderia ser perdido. Devo dizer a verdade ou a mentira, na maioria das vezes? Estou inclinado à primeira opção, pois dizer a verdade é algo bom, e mentir é algo ruim. Assim, se é um fato que dizer a verdade é algo bom, tenho como justificar o julgamento moral de que devemos dizer a verdade. Um fato moral confere autoridade a um julgamento moral. E se não houver fatos morais? Se, ao afirmar que dizer a verdade é algo bom, estou apenas indicando a minha preferência, então, embora possa ser um fato sobre as minhas preferências que dizer a verdade é algo bom, não se segue daí que isto seja um fato moral ou um fato moral repleto de autoridade para justificar os nossos julgamentos morais. A autoridade dos fatos morais parece depender de que eles não repousem sobre as minhas preferências, nem de ninguém.
O relativismo, deste modo, parece implicar o irracionalismo ao subtrair dos fatos morais a sua autoridade. Como o faz? Relativizando os fatos morais às preferências do sujeito ou a qualquer outro parâmetro que permita ampla variação. Se, ao dizer que mentir é ruim, devo acrescentar um "para mim", ou "para você", ou ainda "para um fulano qualquer", então o fato relativizado que se obtém já não tem mais força racional para fazer com que o julgamento moral que se baseia nele se imponha aos demais. Se a relativização retira dos fatos morais a sua autoridade, então qualquer que seja o nosso julgamento moral, ele não parece repousar em uma base racional, ele não tem forças para se impor a ninguém, quando muito, a mim, que o originei. Segue-se, então, o irracionalismo.
Devemos resistir a essa conclusão, a saber, que o relativismo sobre X implica o irracionalismo sobre X. Há uma premissa oculta aqui e passível de contestação: se o fato sobre o qual repousa um julgamento não confere a este autoridade universal, então ele não constitui uma base racional para o julgamento. Em outras palavras, nenhuma racionalidade sem universalidade. É preciso deixar claro, no entanto, que este é o tipo de premissa que dificilmente se defende ou se contesta a não ser circularmente. Universalistas se apoiarão nela para defender ela mesma, e relativistas se apoiarão na sua negação para defender o contrário. Para os universalistas, o irracionalismo se segue do relativismo. Para os relativistas, não. E talvez essa seja uma conclusão demasiadamente relativista. Que seja.
Como poderia a razão ser tão indiferente à moralidade? Primeiro vejamos o que conferiria autoridade racional a um julgamento moral, pois aí talvez tenhamos a pista do que poderia ser perdido. Devo dizer a verdade ou a mentira, na maioria das vezes? Estou inclinado à primeira opção, pois dizer a verdade é algo bom, e mentir é algo ruim. Assim, se é um fato que dizer a verdade é algo bom, tenho como justificar o julgamento moral de que devemos dizer a verdade. Um fato moral confere autoridade a um julgamento moral. E se não houver fatos morais? Se, ao afirmar que dizer a verdade é algo bom, estou apenas indicando a minha preferência, então, embora possa ser um fato sobre as minhas preferências que dizer a verdade é algo bom, não se segue daí que isto seja um fato moral ou um fato moral repleto de autoridade para justificar os nossos julgamentos morais. A autoridade dos fatos morais parece depender de que eles não repousem sobre as minhas preferências, nem de ninguém.
O relativismo, deste modo, parece implicar o irracionalismo ao subtrair dos fatos morais a sua autoridade. Como o faz? Relativizando os fatos morais às preferências do sujeito ou a qualquer outro parâmetro que permita ampla variação. Se, ao dizer que mentir é ruim, devo acrescentar um "para mim", ou "para você", ou ainda "para um fulano qualquer", então o fato relativizado que se obtém já não tem mais força racional para fazer com que o julgamento moral que se baseia nele se imponha aos demais. Se a relativização retira dos fatos morais a sua autoridade, então qualquer que seja o nosso julgamento moral, ele não parece repousar em uma base racional, ele não tem forças para se impor a ninguém, quando muito, a mim, que o originei. Segue-se, então, o irracionalismo.
Devemos resistir a essa conclusão, a saber, que o relativismo sobre X implica o irracionalismo sobre X. Há uma premissa oculta aqui e passível de contestação: se o fato sobre o qual repousa um julgamento não confere a este autoridade universal, então ele não constitui uma base racional para o julgamento. Em outras palavras, nenhuma racionalidade sem universalidade. É preciso deixar claro, no entanto, que este é o tipo de premissa que dificilmente se defende ou se contesta a não ser circularmente. Universalistas se apoiarão nela para defender ela mesma, e relativistas se apoiarão na sua negação para defender o contrário. Para os universalistas, o irracionalismo se segue do relativismo. Para os relativistas, não. E talvez essa seja uma conclusão demasiadamente relativista. Que seja.
Comentários