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Mostrando postagens de janeiro, 2014

[187] Aquela opinião que não quer se calar é uma que provavelmente deve se calar

Aquela opinião para a qual você não tem qualquer evidência e que também não é tão óbvia a ponto de ser ininteligível manifestá-la é uma que você também não deve normalmente* manifestar, embora por uma razão distinta. Ou você acha que o seu ouvinte tem alguma razão para aceitá-la, ou acha que não tem. Se acha que tem e como você mesmo não tem nenhuma evidência ou razão para esta opinião, então a única razão para que o seu ouvinte a aceite é que você a aceita. Ou seja, você se representa como alguém muito especial, cujas opiniões devem ser aceitas apenas porque você, você em especial, as aceita. Se você acha que o seu ouvinte não tem alguma razão para aceitar a sua opinião, então por que a manifesta? Por que não a guarda para si? A não ser que seja uma matéria de gosto ou não estejamos em absoluto interessados no que é o caso, o que normalmente* não é ou não deveria ser o caso, não é apropriado manifestar como sendo o caso o que não podemos minimamente garantir como sendo o caso. O outro

[186] A tese da simetria

A tese da simetria, defendida pelo Programa Forte na Sociologia do Conhecimento, é geralmente vista com maus olhos pela filosofia da ciência. Não sem razão. Conforme ela é lida, considerações normativas sobre o conhecimento parecem ser completamente dispensáveis e despropositadas. Lida assim, a sociologia do conhecimento seria um substituto para a filosofia da ciência. Porém, como irei sugerir, a tese da simetria não precisa ser lida como tendo essa consequência. O que é a tese da simetria? Grosseiramente, a tese afirma que explicações causais para crenças verdadeiras não evocam tipos de causas distintas daquelas que geralmente são evocadas para explicar crenças falsas. Mais fundamentalmente ainda, a tese sustenta que as explicações causais para as crenças que tomamos como sendo conhecimento não devem fazer referência à verdade ou à falsidade (ainda que suposta) da crença, a razões a favor ou contra essas crenças, nem mesmo à evidência potencialmente disponível a favor ou contra

[185] Do peso de ser livre

“Queria liberdade, mais liberdade que tinha. Mas logo pensei que se me visse absolutamente livre dos meus compromissos, livre do meu viver, livre disso tudo que me adere forçosamente à vida, eu teria de defrontar a cada instante com a pergunta: ‘por que viver?’. Então aquiesci, mas não sem revolta e desprezo por isso que somos”.

[184] Ética na discussão

Há uma razão muito simples para não podermos, em uma discussão entre pares, introduzir como premissa uma afirmação que o nosso interlocutor não aceita, a não ser, obviamente, que a fundamentemos em outras afirmações que ele aceita. Mas neste caso, ele aceitará a afirmação ou, pelo menos, se comunga as mesmas regras de inferência, deveria aceitá-la. Se ele não aceita, não podemos de qualquer modo prosseguir a discussão como se ele a aceitasse. A razão para isso é moral. Ao fazê-lo, deixamos de tratar o interlocutor como um par; passamos a representá-lo como alguém cognitivamente inferior ou como tendo menos autoridade epistêmica do que nós e rompemos, assim, com uma assunção mútua, aceita (geralmente implicitamente) no início da discussão, de que éramos e, portanto, nos trataríamos como pares intelectuais. Somente alguém cognitivamente inferior ou de menor autoridade epistêmica se encontra na situação de ter a obrigação epistêmica de aceitar de alguém cognitivamente superior e de maior