Há uma razão muito simples para não podermos, em uma discussão entre pares, introduzir como premissa uma afirmação que o nosso interlocutor não aceita, a não ser, obviamente, que a fundamentemos em outras afirmações que ele aceita. Mas neste caso, ele aceitará a afirmação ou, pelo menos, se comunga as mesmas regras de inferência, deveria aceitá-la. Se ele não aceita, não podemos de qualquer modo prosseguir a discussão como se ele a aceitasse. A razão para isso é moral. Ao fazê-lo, deixamos de tratar o interlocutor como um par; passamos a representá-lo como alguém cognitivamente inferior ou como tendo menos autoridade epistêmica do que nós e rompemos, assim, com uma assunção mútua, aceita (geralmente implicitamente) no início da discussão, de que éramos e, portanto, nos trataríamos como pares intelectuais. Somente alguém cognitivamente inferior ou de menor autoridade epistêmica se encontra na situação de ter a obrigação epistêmica de aceitar de alguém cognitivamente superior e de maior autoridade epistêmica uma afirmação que, até então, ele não enxergava como verdadeira e que não é fundamentada em outras que ele aceita. Se continuamos a discussão a partir de uma afirmação que o interlocutor não aceita, geramos a presunção de que ele tem esta obrigação epistêmica e, portanto, o tratamos como cognitivamente inferior ou de menor autoridade epistêmica. Ofendemos, assim, a dignidade epistêmica que lhe fora concedida no início da discussão.
Claro que, mantendo uma discussão entre pares, não ficamos sem recursos para articular a nossa posição a partir de afirmações que o interlocutor não aceita. Porém, para não cometer a falta moral acima, as afirmações que o interlocutor não aceita e que não são fundamentadas em outras que ele aceita devem ser explicitamente introduzidas na discussão como assunções. O interlocutor poderá, então, engajar na discussão da cogência de nossa posição, muito embora a sua solidez estará, a partir de então, fora da discussão.
Uma autêntica discussão entre pares jamais deveria ser vista como uma batalha, mas como uma atividade cooperativa em que os envolvidos se engajam respeitosamente na busca conjunta da verdade.
Claro que, mantendo uma discussão entre pares, não ficamos sem recursos para articular a nossa posição a partir de afirmações que o interlocutor não aceita. Porém, para não cometer a falta moral acima, as afirmações que o interlocutor não aceita e que não são fundamentadas em outras que ele aceita devem ser explicitamente introduzidas na discussão como assunções. O interlocutor poderá, então, engajar na discussão da cogência de nossa posição, muito embora a sua solidez estará, a partir de então, fora da discussão.
Uma autêntica discussão entre pares jamais deveria ser vista como uma batalha, mas como uma atividade cooperativa em que os envolvidos se engajam respeitosamente na busca conjunta da verdade.
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