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Mostrando postagens de fevereiro, 2010

[166] Relativismo e Irracionalismo 2

Adendo à entrada [102] . Irracionalismo e relativismo são teses distintas. O primeiro pode ser formulado assim: (I) para qualquer proposição p, não é mais racional aceitá-la do que rejeitá-la. E o relativismo assim: (R) para qualquer proposição p, a racionalidade de aceitar ou rejeitar p é relativa à (cultura|sujeito...). (I) não se segue logicamente de (R). Com efeito, enquanto (I) faz um uso absoluto do predicado "ser racional aceitar", (R) faz um uso relativo do mesmo predicado e sem uma premissa que explicite a conexão entre o uso relativo e o uso absoluto, não há como concluir (I) de (R). Avaliada absolutamente, (R) é auto-refutante. Avaliada relativamente, ela é coerente. Ou seja, diante da pergunta, "é racional aceitar (R)?", podemos responder "sim" em relação a uma cultura que sustenta (R), mas necessariamente temos de dizer "não" se pretendemos que a racionalidade de aceitar (R) esteja desvinculada de qualquer (cultura|sujeito...).  (I),

[165] Das diferenças argumentativas entre a primeira pessoa do singular e do plural

Constantemente me chamam a atenção por mesclar, em um mesmo texto, a primeira pessoa do singular com a primeira pessoa do plural. Dizem que, por uma questão de estilo, é preciso uniformizar. Eu acho essa razão muito fraca e que deixo de transmitir informação relativamente valiosa ao leitor quando uniformizo. Meus usos da primeira pessoa do singular e do plural seguem um padrão muito bem definido: no singular, quando quero deixar claro os meus compromissos teóricos, o que eu vou defender, qual é o objetivo do texto que escrevo, quais premissas dúbias assumo como verdadeiras; no plural, quando a argumentação está sendo propriamente desenvolvida, quando, supondo os compromissos explicitados, com os quais o leitor não precisa estar em absoluto de acordo, o raciocínio a partir deles deve soar pelo menos razoável a qualquer leitor. É também a diferença entre não convidar o leitor a defender o que defendo e convidar o leitor a pensar comigo em uma defesa particular do que defendo. Estilo nem

[164] Bernad Williams e Jaakko Hintikka sobre os rumos da filosofia

Dois textos excelentes para nos ajudar a pensar no futuro da filosofia e nas suas relações com as demais disciplinas do conhecimento: Williams, B. Philosophy as Humanistic Discipline e Hintikka, J. Philosophical Research: Problems and Proposals . O texto do Bernard Williams bate duro no que ele chama de cientismo, a ideia de que a filosofia tem os mesmos objetivos da ciência e deve assimilar o modo de operar desta última, não só metodologicamente, mas também no gênero e estilo discursivo. A filosofia, neste caso, torna-se uma disciplina Frankenstein. Sem o aparato experimental da ciência, suas conjecturas tomam a forma de observações programáticas que poderiam ser desenvolvidos pelas ciências empíricas. O cientista também faz isso nas suas falas informais, mas ele tem como fundamento para estas observações a sua prática diária. Já o filósofo parece, neste terreno, mais com um diletante. Que interesse terá para o cientista as observações programáticas de um filósofo que tem conhecimen