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Mostrando postagens de janeiro, 2009

[109] Conhecimento interessado

Essa busca desinteressada pela verdad tem lá as suas raízes psíquicas. Tratamento frio e imparcial do objeto de estudo, por maior que seja o seu furor em conhecê-lo. Pretensão de que o seu afeto pelo objeto não interfira no seu conhecimento do mesmo. Mas por que diabos preciso subtrair a minha subjetividade para adquirir um "conhecimento" do objeto. O modo como ele me afeta não pode ser uma via de acesso ao próprio objeto, a uma dimensão sua tão essencial quanto qualquer outra? A predominância da objetividade fria e distante tem uma base factual, social: a hegemonia extrovertida. É fato que os extrovertidos são maioria e que os objetos lhe afetam menos emotivamente. Isto é, a relação que eles têm com o mundo é pouco ou quase nada emotiva. Sua biologia é de tal forma constituída que lhes possibilita conhecer quase nada emotivamente. A emoção, como via de acesso a uma dimensão do mundo, é, para eles, embotada, embaçada. Para o introverso, ao contrário, essa via é tão transparen

[108] Ética parcialista

Uma ética parcialista parte da idéia de que obrigações e permissões morais se baseiam em certas relações especiais, estabelecendo um núcleo duro da moralidade. Que relações são essas? Relações de afeto, dos mais variados tipos, amor, compaixão etc, que o indivíduo tem consigo mesmo e com os outros. Diferentes graus de parceria que se estabelece com os outros implicam igualmente diferentes graus de obrigação e permissões morais. O amor por si ou por outra pessoa é uma relação básica repleta de implicações morais. Uma pessoa que diz amar uma outra está, se seus sentimentos são sinceros, disposta a promover o seu bem. Se ela diz amar e, no entanto, não faz nada para promover o bem da outra ou mesmo poupá-la de sofrimento, então ela age hipocritamente ou, pior ainda, irracionalmente. Mas o que dizer da situação em que você ama outra pessoa, dispõe-se a promover-lhe o bem e a lhe poupar o sofrimento, mas não obtém sucesso algum? Se obtém apenas fracassos em reiteradas tentativas, não perde

[107] Novidade filosófica

A novidade metafórica enriquece a linguagem.‭ ‬Ela traz à tona novos sentidos que podem,‭ ‬então,‭ ‬ser recrutados para o nosso poderio expressivo.‭  Comparar a novidade filosófica com a novidade metafórica é parcialmente enganador,‭ como sugeri em [105] , ‬pois uma novidade filosófica é a propriedade de um texto ou,‭ ‬em alguns casos,‭ ‬da junção de vários textos,‭ ‬mas não de sentenças isoladas‭; ‬enquanto a novidade metafórica pode e geralmente emerge em uma única sentença ou frase.‭ ‬Mas como um texto é também uma junção de várias sentenças,‭ ‬talvez a originalidade do texto filosófico pudesse ser uma medida da quantidade de novidades metafóricas que ele expressa.‭  Essa pode ser uma dimensão da novidade filosófica,‭ ‬que,‭ ‬no entanto,‭ ‬não se distingue da novidade do romance,‭ ‬ou mesmo da novidade científica,‭ ‬pois os textos científicos e os romances também podem expressar inúmeras metáforas novas.‭ ‬Isso não é problemático se for razoável supor que a especificidade filosófica

[106] Justificação

Se a justificação j para p não é infalível, isto é, se ela não é forte o suficiente para conectar necessariamente p àquilo que torna p verdadeiro, então toda a evidência disponível, excetuando j , é compatível tanto com p quanto com não-p . A possibilidade de que não-p seja o caso parece derrogar a justificação j , ou, pelo menos, a coloca sob suspeita, impedindo, assim, que j possa cumprir o papel de uma justificação básica, não-inferencial. Como j não implica não - não-p , j carece de reforço para implicar a falsidade de não-p , isto é, j carece de justificação ulterior. Mas este argumento, se é que temos aí um argumento, assenta-se sobre a assunção de que a justificação j precisa implicar não-não-p para ter um papel positivo e não-dependente na justificação de p , o que não é óbvio. O papel positivo de j sobre p não pode ser eclipsado apenas pela possibilidade de não-p ou por não implicar não-não-p . Esse papel positivo é derrogado ou posto em dúvida apenas se houver outra j

[105] Originalidade filosófica

O texto T é original ou não? Filósofos do tipo A e do tipo B acreditam que a pergunta pode ser respondida por uma questão de fato. Quando entram em desacordo, isto é, quando o texto T é dito sem originalidade pelos filósofos do tipo A, os filósofos do tipo B se defendem argumentando que os filósofos do tipo A estão contaminados por pré-juízos e preconceitos, isto é, um certo véu dos preconceitos impede que eles vejam a originalidade que, de fato, existe no texto T. Ambos parecem então, pressupor que i) a originalidade é uma propriedade objetiva do texto, ainda que ela possa comportar graus e ii) que se é possível evitar o véu dos pré-juízos, então ou apreendemos diretamente a originalidade do texto, ou a inferimos a partir de juízos confiáveis e verdadeiros sobre propriedade que conhecemos do texto T. Como talvez seja mais difícil sustentar a apreensão direta da originalidade do texto, se é que tal coisa existe com este estatuto, ambos os lados acabam tendo que desenvolver um esquema g