A novidade metafórica enriquece a linguagem. Ela traz à tona novos sentidos que podem, então, ser recrutados para o nosso poderio expressivo.
Comparar a novidade filosófica com a novidade metafórica é parcialmente enganador, como sugeri em [105], pois uma novidade filosófica é a propriedade de um texto ou, em alguns casos, da junção de vários textos, mas não de sentenças isoladas; enquanto a novidade metafórica pode e geralmente emerge em uma única sentença ou frase. Mas como um texto é também uma junção de várias sentenças, talvez a originalidade do texto filosófico pudesse ser uma medida da quantidade de novidades metafóricas que ele expressa.
Essa pode ser uma dimensão da novidade filosófica, que, no entanto, não se distingue da novidade do romance, ou mesmo da novidade científica, pois os textos científicos e os romances também podem expressar inúmeras metáforas novas. Isso não é problemático se for razoável supor que a especificidade filosófica de um texto filosófico se deve a outros fatores que a sua novidade. Sua novidade pode ser do mesmo tipo que a novidade de outros textos e, ainda assim, esses textos têm especificidades distintas.
Mas o ponto era só dizer que a novidade filosófica se explica em parte pela novidade metafórica, mas não se reduz a ela, assim como a novidade de um texto científico dificilmente se reduz também à novidade metafórica que ele traz à tona. A novidade de um texto científico deve descortinar também um saber empírico ou teórico novo. Algo que antes era apenas suposto é, após o texto, conhecido. A originalidade será ainda maior quanto mais amplo for o conhecimento empírico ou teórico obtido. Há os casos de revoluções também, em que não é necessário trazer um novo conhecimento para a atribuição de novidade/originalidade, mas sim o estabelecimento de um novo campo de possibilidades de pesquisa, sendo este, na verdade, o caso de maior novidade ainda.
Em A arte do romance, Kundera desenvolve a tese de que o romance desfruta de valor cognitivo, ele nos fornece conhecimento existencial. Pode-se dizer que o espaço "lógico" do romance é determinado pelas possibilidades fenomênicas da nossa existência. Assim, Kafka escreve um romance absurdamente original, O Processo, por descortinar-nos uma forma de existência humanamente possível, em todas as suas dimensões fenomênicas. Forma esta que, alguns anos mais tarde, foi, de fato, tornada atual em regimes totalitários. Mas a novidade dessa forma de vida, dessa possibilidade de existência, com todos os seus desdobramentos fenomênicos, já estava presente no romance de Kafka e foi-nos, assim, desvelado por ele.
Nos três casos discutidos, a novidade metafórica, a novidade científica e a novidade romancista, podemos enxergar um processo de desvelamento. A novidade metafórica descortina, para os falantes de uma linguagem, uma possibilidade de sentido que lhes estava velada. A novidade científica descortina um saber empírico ou teórico. E a novidade romancista descortina uma possibilidade existencial, uma forma de vida, com todo o seu colorido fenomênico.
A novidade só faz sentido, obviamente, para um ser imerso no tempo. Sem a experiência do antes e do depois, não há novidade. O vir a ser de uma novidade entrelaça, para um ser, dois instantes distintos da sua experiência. Seu horizonte de acesso às possibilidades de um domínio ôntico é reconfigurado, alargado ou ajustado, em qualquer caso, um novo ser lhe é dado na sua experiência, seja um sentido, um conhecimento, ou uma forma de existência etc.
Mas e quanto à filosofia? Que terreno ôntico ela explora? Que tipo de horizonte de possibilidades a novidade filosófica explora e desvela em nossa experiência? Em outras palavras, a novidade filosófica tem alguma especificidade, desvelando, assim, um tipo autêntico de realidade, ou ela é uma glossa de outros tipos de novidades, podendo, assim, ser resumida a elas? Esgoto toda a novidade filosófica quando a traduzo em novidades de sentido, de conhecimentos ou de formas de vida?
Colocando ainda de outra forma: será que o ajuste, o alargamento ou a reconfiguração de um horizonte de possibilidades de um terreno ôntico podem ser explicados por mudanças na linguagem que usamos para descrever esse horizonte e, assim, a novidade de sentido capta toda a diferença que um tipo de horizonte de possibilidades expressa no tempo, ou a estrutura de um horizonte é de tal forma entrelaçada e unida à experiência, servindo de base a todas as formas de existir e pensar, não sendo, então, redutível à realidade dos sentidos? É difícil, para mim, ver como a novidade desvelada pelo O Processo, em todo o seu colorido fenomênico, possa ser completamente reduzida a uma soma dos sentidos que ela articula e traz à tona. Mas isso pode ser apenas uma dificuldade intuitiva minha.
Comparar a novidade filosófica com a novidade metafórica é parcialmente enganador, como sugeri em [105], pois uma novidade filosófica é a propriedade de um texto ou, em alguns casos, da junção de vários textos, mas não de sentenças isoladas; enquanto a novidade metafórica pode e geralmente emerge em uma única sentença ou frase. Mas como um texto é também uma junção de várias sentenças, talvez a originalidade do texto filosófico pudesse ser uma medida da quantidade de novidades metafóricas que ele expressa.
Essa pode ser uma dimensão da novidade filosófica, que, no entanto, não se distingue da novidade do romance, ou mesmo da novidade científica, pois os textos científicos e os romances também podem expressar inúmeras metáforas novas. Isso não é problemático se for razoável supor que a especificidade filosófica de um texto filosófico se deve a outros fatores que a sua novidade. Sua novidade pode ser do mesmo tipo que a novidade de outros textos e, ainda assim, esses textos têm especificidades distintas.
Mas o ponto era só dizer que a novidade filosófica se explica em parte pela novidade metafórica, mas não se reduz a ela, assim como a novidade de um texto científico dificilmente se reduz também à novidade metafórica que ele traz à tona. A novidade de um texto científico deve descortinar também um saber empírico ou teórico novo. Algo que antes era apenas suposto é, após o texto, conhecido. A originalidade será ainda maior quanto mais amplo for o conhecimento empírico ou teórico obtido. Há os casos de revoluções também, em que não é necessário trazer um novo conhecimento para a atribuição de novidade/originalidade, mas sim o estabelecimento de um novo campo de possibilidades de pesquisa, sendo este, na verdade, o caso de maior novidade ainda.
Em A arte do romance, Kundera desenvolve a tese de que o romance desfruta de valor cognitivo, ele nos fornece conhecimento existencial. Pode-se dizer que o espaço "lógico" do romance é determinado pelas possibilidades fenomênicas da nossa existência. Assim, Kafka escreve um romance absurdamente original, O Processo, por descortinar-nos uma forma de existência humanamente possível, em todas as suas dimensões fenomênicas. Forma esta que, alguns anos mais tarde, foi, de fato, tornada atual em regimes totalitários. Mas a novidade dessa forma de vida, dessa possibilidade de existência, com todos os seus desdobramentos fenomênicos, já estava presente no romance de Kafka e foi-nos, assim, desvelado por ele.
Nos três casos discutidos, a novidade metafórica, a novidade científica e a novidade romancista, podemos enxergar um processo de desvelamento. A novidade metafórica descortina, para os falantes de uma linguagem, uma possibilidade de sentido que lhes estava velada. A novidade científica descortina um saber empírico ou teórico. E a novidade romancista descortina uma possibilidade existencial, uma forma de vida, com todo o seu colorido fenomênico.
A novidade só faz sentido, obviamente, para um ser imerso no tempo. Sem a experiência do antes e do depois, não há novidade. O vir a ser de uma novidade entrelaça, para um ser, dois instantes distintos da sua experiência. Seu horizonte de acesso às possibilidades de um domínio ôntico é reconfigurado, alargado ou ajustado, em qualquer caso, um novo ser lhe é dado na sua experiência, seja um sentido, um conhecimento, ou uma forma de existência etc.
Mas e quanto à filosofia? Que terreno ôntico ela explora? Que tipo de horizonte de possibilidades a novidade filosófica explora e desvela em nossa experiência? Em outras palavras, a novidade filosófica tem alguma especificidade, desvelando, assim, um tipo autêntico de realidade, ou ela é uma glossa de outros tipos de novidades, podendo, assim, ser resumida a elas? Esgoto toda a novidade filosófica quando a traduzo em novidades de sentido, de conhecimentos ou de formas de vida?
Colocando ainda de outra forma: será que o ajuste, o alargamento ou a reconfiguração de um horizonte de possibilidades de um terreno ôntico podem ser explicados por mudanças na linguagem que usamos para descrever esse horizonte e, assim, a novidade de sentido capta toda a diferença que um tipo de horizonte de possibilidades expressa no tempo, ou a estrutura de um horizonte é de tal forma entrelaçada e unida à experiência, servindo de base a todas as formas de existir e pensar, não sendo, então, redutível à realidade dos sentidos? É difícil, para mim, ver como a novidade desvelada pelo O Processo, em todo o seu colorido fenomênico, possa ser completamente reduzida a uma soma dos sentidos que ela articula e traz à tona. Mas isso pode ser apenas uma dificuldade intuitiva minha.
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