Essa busca desinteressada pela verdad tem lá as suas raízes psíquicas. Tratamento frio e imparcial do objeto de estudo, por maior que seja o seu furor em conhecê-lo. Pretensão de que o seu afeto pelo objeto não interfira no seu conhecimento do mesmo. Mas por que diabos preciso subtrair a minha subjetividade para adquirir um "conhecimento" do objeto. O modo como ele me afeta não pode ser uma via de acesso ao próprio objeto, a uma dimensão sua tão essencial quanto qualquer outra? A predominância da objetividade fria e distante tem uma base factual, social: a hegemonia extrovertida. É fato que os extrovertidos são maioria e que os objetos lhe afetam menos emotivamente. Isto é, a relação que eles têm com o mundo é pouco ou quase nada emotiva. Sua biologia é de tal forma constituída que lhes possibilita conhecer quase nada emotivamente. A emoção, como via de acesso a uma dimensão do mundo, é, para eles, embotada, embaçada. Para o introverso, ao contrário, essa via é tão transparente que não é incomum cegar-se com o excesso de realidade. Na justa medida, eles apreendem uma dimensão afectiva do objeto, seu colorido fenomênico e existencial. Se fôssemos realmente contextualizar o conhecimento, então a busca interesseada e emotiva da verdade deveria ter tanta legitimidade, para conhecedores-emotivos, quanto a busca desinteressada para conhecedores sem ou de pouca sensibilidade.
Irracionalismo é a tese de que os nossos julgamentos são arbitrários. O irracionalismo pode aplicar-se apenas a um setor do conhecimento humano. Por exemplo, podemos ser irracionalistas morais. Assim, julgamentos morais sobre como agir, o que fazer, o que é certo e errado são arbitrários, não temos uma razão para eles, eles não se fundam em nada que possa legitimá-los diante dos outros. Podem ser fomentados por nossas emoções ou desejos, mas nada disso tira a sua arbitrariedade diante da razão. Chegaríamos ao irracionalismo moral se tivéssemos razões para pensar que não há nada na razão que pudesse amparar julgamentos morais. Isto é, dado um dilema moral do tipo "devo fazer X ou ~X", não há ao que apelar racionalmente para decidir a questão. Donde se seque que, qualquer decisão que você tomar, seja a favor de X, seja de ~X, será arbitrária. Como poderia a razão ser tão indiferente à moralidade? Primeiro vejamos o que conferiria autoridade racional a um julgamento moral, pois ...
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