Aquela opinião para a qual você não tem qualquer evidência e que também não é tão óbvia a ponto de ser ininteligível manifestá-la é uma que você também não deve normalmente* manifestar, embora por uma razão distinta. Ou você acha que o seu ouvinte tem alguma razão para aceitá-la, ou acha que não tem. Se acha que tem e como você mesmo não tem nenhuma evidência ou razão para esta opinião, então a única razão para que o seu ouvinte a aceite é que você a aceita. Ou seja, você se representa como alguém muito especial, cujas opiniões devem ser aceitas apenas porque você, você em especial, as aceita. Se você acha que o seu ouvinte não tem alguma razão para aceitar a sua opinião, então por que a manifesta? Por que não a guarda para si? A não ser que seja uma matéria de gosto ou não estejamos em absoluto interessados no que é o caso, o que normalmente* não é ou não deveria ser o caso, não é apropriado manifestar como sendo o caso o que não podemos minimamente garantir como sendo o caso. O outro normalmente* espera a verdade e a sua opinião infundada, sem calço na evidência, afronta e desrespeita essa expectativa. Nesta circunstância, se não é irracional, então é no mínimo imoral manifestar a sua opinião. Em resumo, ou você se acha cognitivamente superior, ou você se acha moralmente superior quando manifesta a sua opinião infundada entre pessoas interessadas em saber o que é o caso. Em qualquer caso, você não deveria nos expor a sua opinião infundada.
A distinção entre contexto de descoberta e contexto de justificação é normalmente apresentada como marcando a diferença entre, por um lado, os processos de pensamento, teste e experimentação que de fato ocorreram em um laboratório ou em um ambiente de pesquisa e que levaram ou contribuíram para alguma descoberta científica e, de outro, os processos de justificação e validação dessa descoberta. Haveria, portanto, uma clara diferença entre descrever como cientistas chegaram a fazer certas alegações científicas, o que seria uma tarefa para as ciências empíricas, como a sociologia, a psicologia e a antropologia da ciência, e justificar essas alegações, o que seria uma tarefa para a epistemologia, uma disciplina normativa e não-empírica. Essa distinção é corriqueira em debates acerca do escopo da filosofia da ciência e teria sido explicitada inicialmente por Reichenbach. Contudo, quando examinamos a maneira como ele circunscreveu as tarefas da epistemologia, notamos que alguns elemento...
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