O que faz o filósofo, qual a sua especialidade? Eu diria metaforicamente que o filósofo é mestre em separar grãos de areia. Ele é capaz de tomar dois grãos em seus dedos, notar suas semelhanças e pincelar as suas diferenças, quando nem mesmo o melhor dos microscópios é capaz de dar ao homem comum essa percepção. Substitua agora os grãos pelos conceitos e terás uma imagem literal do que faz o filósofo. Ele é um fazedor de distinções, um meta-lingüístico por excelência. Para o filósofo, a linguagem é uma floresta a ser devastada. Mal sabe ele que a sua atividade é ecologicamente correta: ele devasta semeando. Quando olha para trás, uma floresta ainda mais densa emergiu onde ele pensava ter deixado apenas poeira. Assim, podemos concluir que os filósofos formam a única categoria profissional que gera, no seu próprio exercício, a demanda pela sua existência.
A distinção entre contexto de descoberta e contexto de justificação é normalmente apresentada como marcando a diferença entre, por um lado, os processos de pensamento, teste e experimentação que de fato ocorreram em um laboratório ou em um ambiente de pesquisa e que levaram ou contribuíram para alguma descoberta científica e, de outro, os processos de justificação e validação dessa descoberta. Haveria, portanto, uma clara diferença entre descrever como cientistas chegaram a fazer certas alegações científicas, o que seria uma tarefa para as ciências empíricas, como a sociologia, a psicologia e a antropologia da ciência, e justificar essas alegações, o que seria uma tarefa para a epistemologia, uma disciplina normativa e não-empírica. Essa distinção é corriqueira em debates acerca do escopo da filosofia da ciência e teria sido explicitada inicialmente por Reichenbach. Contudo, quando examinamos a maneira como ele circunscreveu as tarefas da epistemologia, notamos que alguns elemento...
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