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Conteúdo não-conceitual df. = o conteúdo N é não-conceitual se S estar no estado E de conteúdo N não implica que S possua os conceitos que descrevem N.

Pela definição podemos já vislumbrar o chamado problema do conceito na questão sobre o que são conteúdos não-conceituais. Conforme o conceito de conceito abarcar mais ou menos coisas, teremos menos ou mais coisas sob a rúbrica de conteúdo não-conceitual. Se até a capacidade de discriminar e identificar (não estamos ainda no estágio do reconhecimento) for considerada uma habilidade conceitual, então sobrará poucos conteúdos para serem eleitos à não-conceitualidade. Talvez apenas as informações de Drestke.

Conceitos estão presentes em julgamentos. Conceitos são evocados para explicar as nossas habilidades inferenciais. São gerais o bastante para atender o princípio da generalidade de Evans. Mas serão conceitos sempre a-contextuais? É possível uma representação ser geral e ter o seu conteúdo fixado apenas em determinados contextos? Sim. T refere à P apenas se Q. Mas sempre que Q, T se refere à P. T possui um grau de generalidade.

Um chimpanzé tem uma compreensão da posição social do chimpanzé lider. O não-lider é capaz de reconhecê-lo e modular o seu comportamento de maneira adequada na sua presença, evitando encará-lo sempre que possível. O mesmo chimpanzé não-lider apresenta um comportamento diferenciado diante dos seus semelhantes sociais. Quanto da nossa psicologia popular precisamos evocar para explicar esses comportamentos? Precisamos de crenças, inferências e conceitos? Que ganho teórico teríamos aqui ao falar de um conteúdo não-conceitual?

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