Não é a sua necessidade por reconhecimento que deveria motivá-lo a argumentar em favor das suas idéias, mas sim a sua crença justificada de que as suas idéias podem levar compreensão ao outro, supondo-se, é claro, que a compreensão é sempre um bem. Não pode acontecer de uma compreensão, da apreensão de uma verdade, ser, para uma pessoa, completamente maléfica para o seu viver presente e futuro, não havendo, assim, nenhuma virtude intrínsceca em lhe revelá-la? Difícil, no entanto, descobrir estes casos antes do ocorrido. A verdade é a finalidade da inquirição, mas nem todos têm por objetivo uma vida inquisitiva, podem, ocasionalmente, adotar a postura inquisitiva em virtude de outros objetivos para os quais ela se mostra relevante. A postura inquisitiva terá para estas pessoas apenas o aspecto de meio e talvez apenas um meio entre outros. Como disse outro dia, o que define o filósofo é a sua curiosidade exagerada, mas é simplesmente falso que a curiosidade seja igualmente distribuída entre humanos, alguns carecem dela quase por completo. A indisposição para discussões que não chegam a lugar algum, para idéias abstratas, seja a área que for, é um indício disso.
Eu queria, no entanto, chegar em outro lugar. Entre filósofos, se lhe podemos atribuir a inquirição como um dos seus fins existenciais mais fundamentais, então esses filósofos estão ao menos dispostos a encarar e suportar qualquer verdade. A eles podemos tudo revelar sem medo de lhes fazer mal. Isso não significa que não lhes faremos mal com alguma verdade. Eles, no entanto, assumiram a responsabilidade por esse mal, deram-nos a permissão para lhes fazer esse mal. Na verdade, lhes faríamos um mal imperdoável se lhes ocultássemos alguma verdade.
Justamente por estarem comprometidos com a verdade, com a postura inquisitiva, os filósofos não podem querer argumentar com os outros em favor de alguma idéia apenas para que os reconheçam. O reconhecimento é apenas um elogio às capacidades de uma pessoa, nada tem a ver com a obtenção da verdade. O reconhecimento deve ser um acidente na busca pela verdade. O filósofo deve tentar argumentar incansavelmente com os seus pares somente quando percebe avassaladora a evidência para a sua idéia. Tem, então, o direito de defendê-la até a morte, mesmo que passe uma vida sem convencer ninguém, mesmo que passe a vida defendendo algo que todos os outros consideram tolo. Seu compromisso com a verdade o faz, antes de tudo, ser comprometido com a sua evidência. Claro que ele deve se cuidar para que o seu desejo de estar certo não contamine a sua evidência. Se ele cuida para atenuar este risco, tem não só o direito, mas o dever de manter-se fiel à sua evidência. Um filósofo pode estar correto mesmo que isso leve centenas de anos para que outros filósofos concordem com ele. Sua idéia pode ser original e válida mesmo que não seja reconhecida em vida como tal, mesmo que talvez passem milênios sem ser reconhecida como tal. Em verdade, quem espera qualquer reconhecimento não está no reto caminho da verdade. O filósofo tem de ser forte e convicto o suficiente para continuar fiel
à sua evidência a despeito do riso alheio, em especial, quando ele provém da comunidade de filósofos. Não pode jamais temer parecer tolo. Sem essa força, ele compromete a finalidade de sua existência em nome de anseios pessoais vulgares. Rebaixa-se à ordinariedade em detrimento da vida filosófica. O filósofo, para atingir a sua finalidade, tem de estar disposto a enfrentar a mais absoluta solidão intelectual.
Eu queria, no entanto, chegar em outro lugar. Entre filósofos, se lhe podemos atribuir a inquirição como um dos seus fins existenciais mais fundamentais, então esses filósofos estão ao menos dispostos a encarar e suportar qualquer verdade. A eles podemos tudo revelar sem medo de lhes fazer mal. Isso não significa que não lhes faremos mal com alguma verdade. Eles, no entanto, assumiram a responsabilidade por esse mal, deram-nos a permissão para lhes fazer esse mal. Na verdade, lhes faríamos um mal imperdoável se lhes ocultássemos alguma verdade.
Justamente por estarem comprometidos com a verdade, com a postura inquisitiva, os filósofos não podem querer argumentar com os outros em favor de alguma idéia apenas para que os reconheçam. O reconhecimento é apenas um elogio às capacidades de uma pessoa, nada tem a ver com a obtenção da verdade. O reconhecimento deve ser um acidente na busca pela verdade. O filósofo deve tentar argumentar incansavelmente com os seus pares somente quando percebe avassaladora a evidência para a sua idéia. Tem, então, o direito de defendê-la até a morte, mesmo que passe uma vida sem convencer ninguém, mesmo que passe a vida defendendo algo que todos os outros consideram tolo. Seu compromisso com a verdade o faz, antes de tudo, ser comprometido com a sua evidência. Claro que ele deve se cuidar para que o seu desejo de estar certo não contamine a sua evidência. Se ele cuida para atenuar este risco, tem não só o direito, mas o dever de manter-se fiel à sua evidência. Um filósofo pode estar correto mesmo que isso leve centenas de anos para que outros filósofos concordem com ele. Sua idéia pode ser original e válida mesmo que não seja reconhecida em vida como tal, mesmo que talvez passem milênios sem ser reconhecida como tal. Em verdade, quem espera qualquer reconhecimento não está no reto caminho da verdade. O filósofo tem de ser forte e convicto o suficiente para continuar fiel
à sua evidência a despeito do riso alheio, em especial, quando ele provém da comunidade de filósofos. Não pode jamais temer parecer tolo. Sem essa força, ele compromete a finalidade de sua existência em nome de anseios pessoais vulgares. Rebaixa-se à ordinariedade em detrimento da vida filosófica. O filósofo, para atingir a sua finalidade, tem de estar disposto a enfrentar a mais absoluta solidão intelectual.
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