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[114] Reconhecimento e Solidão Filosófica II

O reconhecimento é importante? A academia deveria reconhecer os trabalhos filosóficos genuínos feitos por alguns brasileiros? Tenho dúvidas em dizer que ela deveria, embora esteja certo que seria bom para ela se reconhecesse. Na perspectiva do autor, o reconhecimento da academia deveria ser indiferente para a sua persistência no filosofar, como já argumentei em [111]. Para ele é bom que seja reconhecido, enquanto pessoa, enquanto ego, mas não é ou não deveria ser necessário enquanto ser de existência filosófica. Quando lemos a entrevista do Da Costa, percebemos claramente que o reconhecimento das suas idéias não era um objetivo, não era essencial para aliviar as suas inquietações, somente a persistência no filosofar e o filosofar mesmo podiam aliviar as suas inquietações. Que muitas de suas palestras tenham sido canceladas nos anos 60 não causou um cisco na sua convicção de que estava no caminho certo e de que, para ser fiel à sua existência filosófica, deveria continuar trilhando-o.

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