O reconhecimento é importante? A academia deveria reconhecer os trabalhos filosóficos genuínos feitos por alguns brasileiros? Tenho dúvidas em dizer que ela deveria, embora esteja certo que seria bom para ela se reconhecesse. Na perspectiva do autor, o reconhecimento da academia deveria ser indiferente para a sua persistência no filosofar, como já argumentei em [111]. Para ele é bom que seja reconhecido, enquanto pessoa, enquanto ego, mas não é ou não deveria ser necessário enquanto ser de existência filosófica. Quando lemos a entrevista do Da Costa, percebemos claramente que o reconhecimento das suas idéias não era um objetivo, não era essencial para aliviar as suas inquietações, somente a persistência no filosofar e o filosofar mesmo podiam aliviar as suas inquietações. Que muitas de suas palestras tenham sido canceladas nos anos 60 não causou um cisco na sua convicção de que estava no caminho certo e de que, para ser fiel à sua existência filosófica, deveria continuar trilhando-o.
A distinção entre contexto de descoberta e contexto de justificação é normalmente apresentada como marcando a diferença entre, por um lado, os processos de pensamento, teste e experimentação que de fato ocorreram em um laboratório ou em um ambiente de pesquisa e que levaram ou contribuíram para alguma descoberta científica e, de outro, os processos de justificação e validação dessa descoberta. Haveria, portanto, uma clara diferença entre descrever como cientistas chegaram a fazer certas alegações científicas, o que seria uma tarefa para as ciências empíricas, como a sociologia, a psicologia e a antropologia da ciência, e justificar essas alegações, o que seria uma tarefa para a epistemologia, uma disciplina normativa e não-empírica. Essa distinção é corriqueira em debates acerca do escopo da filosofia da ciência e teria sido explicitada inicialmente por Reichenbach. Contudo, quando examinamos a maneira como ele circunscreveu as tarefas da epistemologia, notamos que alguns elemento...
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