Podemos falar em ética da verdade? Isto é, pode haver um argumento moral em favor da crença na verdade absoluta? A crença na verdade absoluta tem um duplo efeito virtuoso, como ficou muito bem demonstrado aqui: (i) ela nos torna mais humildes diante das razões que nos são dadas por terceiros, pois se a verdade não é implicada pela nossa situação epistêmica, então razões de terceiros são bons motivos para revermos as nossas próprias razões e (ii) justamente por nos fazer rever as nossas próprias razões, ela é uma forte razão para evitarmos a apatia epistêmica, isto é, não precisamos esperar pelas razões alheias para revisar as nossas próprias. A crença na verdade absoluta nos obriga à revisão constante, o que é epistemicamente saudável. A descrença na verdade absoluta, na sua versão dogmática, tem, ao contrário, um duplo efeito vicioso: (iii) nos torna arrogantes com terceiros, já que suas razões são irrelevantes para o que cremos como verdadeiro e (iv) nos conduz à apatia epistêmica, uma vez que já sabemos irrefutavelmente tudo o que há para saber.
Em razão das virtudes (i) e (ii) podemos concluir que a crença na verdade absoluta é moralmente superior à descrença na verdade absoluta. Muito embora a superioridade moral da crença na verdade absoluta sobre a sua descrença não implique dedutivamente qualquer razão epistêmica em favor da verdade da crença na verdade absoluta, na dúvida e na ausência de razões epistêmicas contrárias, esta superioridade moral se converte em ou cumpre também o papel de razão epistêmica, pois é improvável que a verdade venha a ser imoral. Assim, a não ser que o descrente na verdade absoluta me forneça boas razões epistêmicas para a sua descrença, a superioridade moral da crença na verdade absoluta é uma boa razão epistêmica para manter-me firme na crença na verdade absoluta, ainda que de modo não-dogmático.
Em razão das virtudes (i) e (ii) podemos concluir que a crença na verdade absoluta é moralmente superior à descrença na verdade absoluta. Muito embora a superioridade moral da crença na verdade absoluta sobre a sua descrença não implique dedutivamente qualquer razão epistêmica em favor da verdade da crença na verdade absoluta, na dúvida e na ausência de razões epistêmicas contrárias, esta superioridade moral se converte em ou cumpre também o papel de razão epistêmica, pois é improvável que a verdade venha a ser imoral. Assim, a não ser que o descrente na verdade absoluta me forneça boas razões epistêmicas para a sua descrença, a superioridade moral da crença na verdade absoluta é uma boa razão epistêmica para manter-me firme na crença na verdade absoluta, ainda que de modo não-dogmático.
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