Pular para o conteúdo principal

[54]

Se, em uma discussão, você se vê obrigado a dizer para o seu interlocutor que ele não entende um determinado ponto, então isto é evidência de que provavelmente você mesmo não tem clareza sobre este ponto e, por isso, não conseguiu fazer com que o seu interlocutor o entendesse. Aplicar o benefício da dúvida tem a desvantagem de tornar a argumentação mais árdua, mas a vantagem correspondente é tornar o argumento mais forte.

Comentários

Seria a dialética? Ou entendi equivocadamente?
... é que ando na Poesia e a Filosofia me soa a cada dia mais sem sentido. Ontem estava com os volumes de Rousseau em mãos, queria ver com mais propriedade porque Kant se encantou tanto com ele... tem algumas passagens belas, mas achei chato. O melhor está nas cartas dele a um Sr. chamado Philopolis, têm pérolas nas Cartas de Rousseau... já leste?
beijo
Eros disse…
Não é dialético, benefício da dúvida é interpretar o outro da maneira que torne o que ele diz o mais razoável possível para você.
Não li essas cartas, mas ele tem alguns romances que parecem ser bons também. Emílio. Já tentou?
Parece um ato generoso interpretar o que o outro diz de maneira a torná-lo razoável... :)

Vou tentar Emílio, já que a parte filosófica me deu tédio-filos.
obrigada pela lembrança da obra.
beijo

Postagens mais visitadas deste blog

[201] A ética da crença

Voltei ao assunto da ética da crença (veja aqui a minha contribuição anterior 194 ) para escrever um texto que possivelmente será publicado como um verbete em um compêndio de epistemologia. Nesta entrada, decidi enfatizar três maneiras pelas quais a discussão sobre normas para crer se relaciona com a ética, algo que nem sempre fica claro neste debate: (1) normas morais servem de analogia para pensar normas para a crença, ainda que os domínios normativos, o epistêmico e o moral, sejam distintos; (2) razões morais são os fundamentos últimos para adotar uma norma para crer e (3) razões morais podem incidir diretamente sobre a legitimidade de uma crença, a crença (o ato de crer) não seria assim um fenômeno puramente epistêmico. O item (3) representa sem dúvida a maneira mais forte pela qual, neste debate, epistemologia e ética se entrelaçam. Sobre ele, abordei sobretudo o trabalho da Rima Basu que, a meu ver, é uma das contribuições recentes mais interessantes e inovadoras ao debate da ét...

[200] A distinção entre contexto de descoberta e contexto de justificação, segundo Reichenbach

A distinção entre contexto de descoberta e contexto de justificação é normalmente apresentada como marcando a diferença entre, por um lado, os processos de pensamento, teste e experimentação que de fato ocorreram em um laboratório ou em um ambiente de pesquisa e que levaram ou contribuíram para alguma descoberta científica e, de outro, os processos de justificação e validação dessa descoberta. Haveria, portanto, uma clara diferença entre descrever como cientistas chegaram a fazer certas alegações científicas, o que seria uma tarefa para as ciências empíricas, como a sociologia, a psicologia e a antropologia da ciência, e justificar essas alegações, o que seria uma tarefa para a epistemologia, uma disciplina normativa e não-empírica. Essa distinção é corriqueira em debates acerca do escopo da filosofia da ciência e teria sido explicitada inicialmente por Reichenbach. Contudo, quando examinamos a maneira como ele circunscreveu as tarefas da epistemologia, notamos que alguns elemento...

[205] Desafios e limitações do ChatGPT

  Ontem tive uma excelente discussão com o Everton Garcia da Costa (UFRGS) e André Dirceu Gerardi (FGV-SP), a convite do NUPERGS, sobre Desafios e Limitações do ChatGPT nas ciências humanas . Agradeço a ambos pela aprendizagem propiciada. Gostaria de fazer duas considerações que não enfatizei o bastante ou esqueci mesmo de fazer. Insisti várias vezes que o ChatGPT é um papagaio estocástico (a expressão não é minha, mas de Emily Bender , professora de linguística computacional) ou um gerador de bobagens. Como expliquei, isso se deve ao fato de que o ChatGPT opera com um modelo amplo de linguagem estatístico. Esse modelo é obtido pelo treinamento em um corpus amplo de textos em que a máquina procurará relações estatísticas entre palavras, expressões ou sentenças. Por exemplo, qual a chance de “inflação” vir acompanhada de “juros” numa mesma sentença? Esse é o tipo de relação que será “codificada” no modelo de linguagem. Quanto maior o corpus, maiores as chances de que esse modelo ...