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A filosofia está em alta nos EUA, por razões utilitaristas, é verdade. Uns adentram no meio para melhorar as suas habilidades argumentativas, outros a escolhem para melhorar suas habilidades de pensamento e escrita, por fim, há ainda aqueles que buscam na filosofia um ar de gravidade existencial que lhes tornará mais promissores na conquista de garotas. A motivação é sempre aprimorar alguma habilidade, seja lá qual for. Não posso ver isso com olhos completamente negativos, os efeitos podem ser bons, ainda que as motivações, em uns casos mais que outros, não sejam tão boas. De qualquer modo, por que haveria eu de achar também que é mais legítimo o sujeito que se move para a filosofia por viver na pele as suas questões e não aquentar em si a inquietude da dúvida? A motivação aqui, embora boa aos meus olhos, não é utilitarista também? O sujeito tem uma falta, um desejo, uma demanda, uma inquietação e busca supri-la pela filosofia (ele pensa que vai supri-la, mas, na verdade, só vai acentuá-la, mas isso já é outra questão). Nada mais pragmático.

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