A filosofia está em alta nos EUA, por razões utilitaristas, é verdade. Uns adentram no meio para melhorar as suas habilidades argumentativas, outros a escolhem para melhorar suas habilidades de pensamento e escrita, por fim, há ainda aqueles que buscam na filosofia um ar de gravidade existencial que lhes tornará mais promissores na conquista de garotas. A motivação é sempre aprimorar alguma habilidade, seja lá qual for. Não posso ver isso com olhos completamente negativos, os efeitos podem ser bons, ainda que as motivações, em uns casos mais que outros, não sejam tão boas. De qualquer modo, por que haveria eu de achar também que é mais legítimo o sujeito que se move para a filosofia por viver na pele as suas questões e não aquentar em si a inquietude da dúvida? A motivação aqui, embora boa aos meus olhos, não é utilitarista também? O sujeito tem uma falta, um desejo, uma demanda, uma inquietação e busca supri-la pela filosofia (ele pensa que vai supri-la, mas, na verdade, só vai acentuá-la, mas isso já é outra questão). Nada mais pragmático.
A distinção entre contexto de descoberta e contexto de justificação é normalmente apresentada como marcando a diferença entre, por um lado, os processos de pensamento, teste e experimentação que de fato ocorreram em um laboratório ou em um ambiente de pesquisa e que levaram ou contribuíram para alguma descoberta científica e, de outro, os processos de justificação e validação dessa descoberta. Haveria, portanto, uma clara diferença entre descrever como cientistas chegaram a fazer certas alegações científicas, o que seria uma tarefa para as ciências empíricas, como a sociologia, a psicologia e a antropologia da ciência, e justificar essas alegações, o que seria uma tarefa para a epistemologia, uma disciplina normativa e não-empírica. Essa distinção é corriqueira em debates acerca do escopo da filosofia da ciência e teria sido explicitada inicialmente por Reichenbach. Contudo, quando examinamos a maneira como ele circunscreveu as tarefas da epistemologia, notamos que alguns elemento...
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