Dilema da amizade. Suponha que você tenha uma informação relevante que, se transmitida a terceiros, poderia evitar com que o seu amigo se ferisse gravemente. No entanto, seu amigo lhe pede que não transmita a informação e enfatiza a confiança que deposita em você, além disso, ele está bem ciente do seu risco. O que você, na qualidade de amigo, faz? Que tem mais importância em uma relação de amizade, o seu afeto pelo amigo, pela vida do amigo, pelo seu bem-estar, ou a confiança sobre a qual a relação se estabelece? Se você transmite a informação e quebra, assim, a confiança do seu amigo, é mesmo possível que a amizade termine, que seu amigo não o perdoe. E, de fato, parece ser difícil ser amigo de alguém em quem você não confia. Mas será a confiança necessária? Por outro lado, se você não transmite a informação e o seu amigo se fere quase mortalmente, não se poderia dizer que o seu apreço pelo amigo era demasiado pequeno a ponto de nem qualificarmos a relação que tinha com ele como a de amizade, já que não se importou o suficiente com a vida dele? Não, já que poderá se defender dizendo que o fez em nome da confiança que ele depositou em você. Por outro lado, se trai a confiança dele contanto a informação, também poderá se defender diante dele dizendo que o fez motivado pela preocupação com o seu bem estar. Mas eu ainda me pergunto, o que é mais necessário para a amizade, o apreço pela vida ou a confiança? Ou não há uma moeda comum para medir tal coisa? O que dá para dizer é que tanto uma quanto a outra são fundamentais para a amizade, já que a falta de uma pode ser justificada em nome da outra, o que não significa que as partes acusadoras aceitarão a justificativa. Mas ela é compreensível.
Voltei ao assunto da ética da crença (veja aqui a minha contribuição anterior 194 ) para escrever um texto que possivelmente será publicado como um verbete em um compêndio de epistemologia. Nesta entrada, decidi enfatizar três maneiras pelas quais a discussão sobre normas para crer se relaciona com a ética, algo que nem sempre fica claro neste debate: (1) normas morais servem de analogia para pensar normas para a crença, ainda que os domínios normativos, o epistêmico e o moral, sejam distintos; (2) razões morais são os fundamentos últimos para adotar uma norma para crer e (3) razões morais podem incidir diretamente sobre a legitimidade de uma crença, a crença (o ato de crer) não seria assim um fenômeno puramente epistêmico. O item (3) representa sem dúvida a maneira mais forte pela qual, neste debate, epistemologia e ética se entrelaçam. Sobre ele, abordei sobretudo o trabalho da Rima Basu que, a meu ver, é uma das contribuições recentes mais interessantes e inovadoras ao debate da ét...
Comentários
(oi :-)
O que pensas sobre a pergunta que está lá no blog das Conntradições?
Pensei logo de cara em ti: o que será que o Eros responderia?
(dá uma flanada lá no primeiro post?)
beijos
sANdrA