Geralmente, quando você faz uma afirmação, ela versa sobre alguma coisa, isto é, esta coisa é o objeto ou a referência da sua afirmação. Entender uma afirmação envolve entender qual é a sua referência. Se eu não sei sobre qual coisa algo está sendo afirmado, tampouco pode-se dizer que entendo a afirmação. Repare, no entanto, que uma coisa é entender ou saber qual é a referência (aquilo sobre o qual algo é afirmado) de uma afirmação e outra coisa bem diferente é ter um conhecimento direto, perceptivo ou intuitivo, desta referência. Posso fazer várias afirmações sem conhecer diretamente seus referentes. Posso, por exemplo, fazer a afirmação provavelmente falsa de que 'Extraterrestres são verdes', muito embora eu jamais tenha visto um. Que fique claro: podemos entender perfeitamente o sentido desta afirmação, qual a sua referência, a saber, o conjunto de todos os seres que nasceram fora da Terra, sem ter jamais conhecido diretamente um desses seres. Na verdade, pode ser o caso que nem mesmo exista um tal ser. Uma afirmação do tipo 'Extraterrestres são verdes' não o compromete, na verdade, com a existência de extraterrestres. Por outro lado, o que temos de nos perguntar é se há casos em que o conhecimento direto do referente é condição necessária para entendermos uma afirmação. De fato, parece haver uma classe de afirmações para as quais isso é verdade, a saber, afirmações em que a referência é introduzida por meio de um indexical ou um pronome demonstrativo. Quando afirmo 'Esta cadeira é verde' o pronome 'Esta' não contém em si o critério de individuação para o objeto que ele visa singularizar, ele precisa se apoiar em outros mecanismos de individuação para fazê-lo. O 'Esta' na frase acima obtém uma referência quando eu, o locutor, por meio de um ato ostensivo, indico a cadeira sobre a qual falo, o que pressupõe, obviamente, a capacidade de individuar a cadeira por meio de alguma modalidade perceptiva e, da mesma forma, meu ouvinte só será capaz de entender qual é a referência desta frase se, de alguma forma, for também capaz de singularizar o objeto que aponto por meio de alguma modalidade perceptiva. De outro modo, haveria uma vácuo quanto a que objeto estou a me referir por 'Esta'. O que agora podemos nos perguntar é se realmente é necessário que singularizemos um objeto por meio da percepção para que uma afirmação cuja referência é introduzida por meio de um demonstrativo seja compreensível. Não poderíamos usar ainda um aparato de individuação lingüístico? Não poderíamos, por exemplo, substituir o 'Esta' na frase acima por 'A cadeira ao lado da mesa marrom'?
A distinção entre contexto de descoberta e contexto de justificação é normalmente apresentada como marcando a diferença entre, por um lado, os processos de pensamento, teste e experimentação que de fato ocorreram em um laboratório ou em um ambiente de pesquisa e que levaram ou contribuíram para alguma descoberta científica e, de outro, os processos de justificação e validação dessa descoberta. Haveria, portanto, uma clara diferença entre descrever como cientistas chegaram a fazer certas alegações científicas, o que seria uma tarefa para as ciências empíricas, como a sociologia, a psicologia e a antropologia da ciência, e justificar essas alegações, o que seria uma tarefa para a epistemologia, uma disciplina normativa e não-empírica. Essa distinção é corriqueira em debates acerca do escopo da filosofia da ciência e teria sido explicitada inicialmente por Reichenbach. Contudo, quando examinamos a maneira como ele circunscreveu as tarefas da epistemologia, notamos que alguns elemento...
Comentários
Nem o "está" está [viu só], longe de receber valor.
A única coisa que estranha é que a cadeira e os extraterrestres "estão" verdes. rs.
Aline.