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Há um sentido de "Eu compreendo" que se remete não ao significado do que é dito, mas a uma experiência vivida que além de explicar o que é dito, tornando-o inteligível, aproxima também falante e ouvinte por um elo empático. Este elo não pode ser suprimido da compreensão sem perda de inteligibilidade. Não é à toa que presenciamos o surgimento de sentimentos gregários entre pessoas que passaram pelos mesmos sofrimentos. Elas podem dizer umas para as outras com maior autoridade "Eu compreendo". Se queremos compreender alguém, temos que tentar nos aproximar do seu vivido, temos que tentar assimilá-lo a nossa própria vivência.

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