Apesar da resenha não ser completamente positiva e apontar para algumas faltas e falhas consideráveis, eu gostaria de ter a grana para comprar o livro (The Phenomenological Mind, Gallagher) resenhado por Beaver. A fenomenologia está novamente em alta, como já havia salientado em [91]; não, obviamente, como um projeto de descobertas aprioristicas como fora no passado. Agora é preciso acomodá-la ao paradigma naturalista dominante. Neste quadro, a fenomenologia tem uma função bem específica a cumprir: descrever bem a nossa experiência. Muitos estudos cognitivos e neurológicos pecam em seus resultados por partirem de descrições ruins ou equivocadas da experiência, em especial, quando a temporalidade está envolvida. A fenomenologia, assim, reaparece como um método descritivo cujo objetivo é capturar, na perspectiva da primeira pessoa, o que se passa na sua experiência e, ao mesmo tempo, fazê-lo de uma forma "rigorosa", apropriada para fins científicos. É possível? Não sei. Antes é preciso olhar que tipos e quais critérios deseja-se aplicar à descrição fenomenológica para torná-la mais "objetiva" e avaliar o que se perde em termos do vivido e do que se ganha na correção descritiva. Eu mesmo fico chocado quando leio Dostoievski e tomo ciência do quanto sou incapaz de descrever com detalhe e acuro o que se passa comigo. Vem-me a dúvida: desconheço-me mais pela minha falta descritiva ou a descrição fenomênica serve apenas para transcrever em uma codificação conceitual algo que já sei intimamente, de modo não verbal? Não descubro nada de novo quando me descrevo, deixando de lado, claro, a obviedade de que venho a notar mais detalhes de uma coisa quando redobro a atenção sobre essa coisa?
Voltei ao assunto da ética da crença (veja aqui a minha contribuição anterior 194 ) para escrever um texto que possivelmente será publicado como um verbete em um compêndio de epistemologia. Nesta entrada, decidi enfatizar três maneiras pelas quais a discussão sobre normas para crer se relaciona com a ética, algo que nem sempre fica claro neste debate: (1) normas morais servem de analogia para pensar normas para a crença, ainda que os domínios normativos, o epistêmico e o moral, sejam distintos; (2) razões morais são os fundamentos últimos para adotar uma norma para crer e (3) razões morais podem incidir diretamente sobre a legitimidade de uma crença, a crença (o ato de crer) não seria assim um fenômeno puramente epistêmico. O item (3) representa sem dúvida a maneira mais forte pela qual, neste debate, epistemologia e ética se entrelaçam. Sobre ele, abordei sobretudo o trabalho da Rima Basu que, a meu ver, é uma das contribuições recentes mais interessantes e inovadoras ao debate da ét...
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