Apesar da resenha não ser completamente positiva e apontar para algumas faltas e falhas consideráveis, eu gostaria de ter a grana para comprar o livro (The Phenomenological Mind, Gallagher) resenhado por Beaver. A fenomenologia está novamente em alta, como já havia salientado em [91]; não, obviamente, como um projeto de descobertas aprioristicas como fora no passado. Agora é preciso acomodá-la ao paradigma naturalista dominante. Neste quadro, a fenomenologia tem uma função bem específica a cumprir: descrever bem a nossa experiência. Muitos estudos cognitivos e neurológicos pecam em seus resultados por partirem de descrições ruins ou equivocadas da experiência, em especial, quando a temporalidade está envolvida. A fenomenologia, assim, reaparece como um método descritivo cujo objetivo é capturar, na perspectiva da primeira pessoa, o que se passa na sua experiência e, ao mesmo tempo, fazê-lo de uma forma "rigorosa", apropriada para fins científicos. É possível? Não sei. Antes é preciso olhar que tipos e quais critérios deseja-se aplicar à descrição fenomenológica para torná-la mais "objetiva" e avaliar o que se perde em termos do vivido e do que se ganha na correção descritiva. Eu mesmo fico chocado quando leio Dostoievski e tomo ciência do quanto sou incapaz de descrever com detalhe e acuro o que se passa comigo. Vem-me a dúvida: desconheço-me mais pela minha falta descritiva ou a descrição fenomênica serve apenas para transcrever em uma codificação conceitual algo que já sei intimamente, de modo não verbal? Não descubro nada de novo quando me descrevo, deixando de lado, claro, a obviedade de que venho a notar mais detalhes de uma coisa quando redobro a atenção sobre essa coisa?
Irracionalismo é a tese de que os nossos julgamentos são arbitrários. O irracionalismo pode aplicar-se apenas a um setor do conhecimento humano. Por exemplo, podemos ser irracionalistas morais. Assim, julgamentos morais sobre como agir, o que fazer, o que é certo e errado são arbitrários, não temos uma razão para eles, eles não se fundam em nada que possa legitimá-los diante dos outros. Podem ser fomentados por nossas emoções ou desejos, mas nada disso tira a sua arbitrariedade diante da razão. Chegaríamos ao irracionalismo moral se tivéssemos razões para pensar que não há nada na razão que pudesse amparar julgamentos morais. Isto é, dado um dilema moral do tipo "devo fazer X ou ~X", não há ao que apelar racionalmente para decidir a questão. Donde se seque que, qualquer decisão que você tomar, seja a favor de X, seja de ~X, será arbitrária. Como poderia a razão ser tão indiferente à moralidade? Primeiro vejamos o que conferiria autoridade racional a um julgamento moral, pois ...
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