Penso que há uma diferença entre as seguintes situações:
Situação 1.
O bandido calcula o que é melhor para ele se safar e, ao final do
cálculo, conclui que o melhor para ele é não dedurar o comparsa. E, em
virtude do cálculo, ele crê que:
(CM) "o melhor para mim é não dedurar o comparsa".
Situação 2.
O libertino do Pascal recepciona o argumento da aposta, faz lá os seus
cálculos, percebe que o melhor para ele é crer na existência de Deus e,
em virtude do cálculo, ele crê que
(CD) "Deus existe".
Qual é a diferença entre a situação (1) e (2)? Vejamos antes o que é
comum. Em ambos os casos, o cálculo estabelece o que é melhor para o
indivíduo. O melhor para o bandido é não dedurar o seu comparsa. O
melhor para o libertino é acreditar em Deus. Qual é a diferença? O que é
melhor no caso do bandido é, ao mesmo tempo, o que torna a sua crença
(CM) verdadeira. Mas o que é melhor no caso do libertino não é o que
torna a sua crença (CD) verdadeira.
Então, no caso do bandido, o que serve para ele de
razão pragmática é também uma razão epistêmica. É uma razão
epistêmica porque é o que torna a sua crença verdadeira.
Razões não são, em si, pragmáticas ou epistêmicas. Elas são pragmáticas
ou epistêmicas conforme atendem a determinados fins. Grosseiramente, uma
razão é pragmática se ela atende a finalidade de obter o melhor para
mim. Uma razão é epistêmica se ela atende a finalidade de obter a
verdade. Em alguns casos, as duas coisas podem coincidir, o que é melhor
para mim é, ao mesmo tempo, o objeto do meu conhecimento/crença e,
portanto, o que me leva ao melhor para mim também me leva para a verdade
da minha crença.
Alguém pode não considerar intuitivo que uma razão pragmática, qua pragmática,
não possa ser uma razão para crer. Se ela é apenas uma razão pragmática,
então, obviamente, ela não leva à verdade, ela não atende à finalidade
da verdade. Como a crença é a atitude de tomar um certo conteúdo
proposicional como verdadeiro, é racional fazê-lo se há uma
razão/motivação pra pensar que a verdade desta crença é obtida, ou seja,
se há uma razão epistêmica em favor da verdade. Eu não consigo entender
o contrário, como alguém vai assentir a verdade de que [x é o caso] porque
[é melhor para ele que x seja o caso]. Eu consigo imaginar que o indivíduo
deseje e [espere que x seja o caso] em função de [ser melhor para ele que
se seja o caso]. Agora a dificuldade é minha. Como alguém pode crer
racionalmente, desconsidero, obviamente, os casos de crença irracional,
mas como ele pode assentir à verdade de que [x é o caso] pelo fato de
pensar que [é melhor para ele que x é o caso]? Se a crença pretende à
verdade, como pode uma consideração sobre o que é melhor para ele
cumprir a finalidade de obter a verdade a não ser quando ela é um fator
de verdade para a sua crença?
Vejamos uma situação. S tem uma doença terminal e tem 90% de chance de
morrer. Alguns psicólogos, no entanto, já mostraram, com relativa
evidência, que sujeitos que são otimistas quanto a sua melhora,
conseguem diminuir em 10 pontos percentuais a sua chance de morte. Ou
seja, se S é otimista quando à sua melhora, ele efetivamente diminui a
sua chance de morte de 90% para 80%. Assim, é melhor para S ser otimista
quanto a sua melhora. Mas como entendemos essa expressão "S é otimista
quanto a sua melhora"? O que ela descreve? Que S crê que ele tem boas
chances de sobreviver? Não, pois, efetivamente, mesmo depois da melhora, mesmo
com 80% de chance de morrer, isso está longe de ser uma boa chance de
sobreviver. Ser otimista, neste caso, no meu entendimento, não envolve
nenhuma crença do tipo, mas sim a esperança de que de ele tem boas
chances de sobreviver. A atitude fomentada pela razão pragmática, que é
melhor ser otimista quanto à sua melhora, neste caso, não é a da crença, mas
a da esperança ou desejo. O que tem efeito benéfico sobre a saúde do
indivíduo é a sua esperança de que irá melhorar e é perfeitamente
racional, neste caso, em virtude deste achado psicológico-medicinal, que
ele tenha esta esperança. A razão pragmática é aqui suficiente para a
racionalidade da sua atitude esperançosa diante da sua melhora.
Situação 1.
O bandido calcula o que é melhor para ele se safar e, ao final do
cálculo, conclui que o melhor para ele é não dedurar o comparsa. E, em
virtude do cálculo, ele crê que:
(CM) "o melhor para mim é não dedurar o comparsa".
Situação 2.
O libertino do Pascal recepciona o argumento da aposta, faz lá os seus
cálculos, percebe que o melhor para ele é crer na existência de Deus e,
em virtude do cálculo, ele crê que
(CD) "Deus existe".
Qual é a diferença entre a situação (1) e (2)? Vejamos antes o que é
comum. Em ambos os casos, o cálculo estabelece o que é melhor para o
indivíduo. O melhor para o bandido é não dedurar o seu comparsa. O
melhor para o libertino é acreditar em Deus. Qual é a diferença? O que é
melhor no caso do bandido é, ao mesmo tempo, o que torna a sua crença
(CM) verdadeira. Mas o que é melhor no caso do libertino não é o que
torna a sua crença (CD) verdadeira.
Então, no caso do bandido, o que serve para ele de
razão pragmática é também uma razão epistêmica. É uma razão
epistêmica porque é o que torna a sua crença verdadeira.
Razões não são, em si, pragmáticas ou epistêmicas. Elas são pragmáticas
ou epistêmicas conforme atendem a determinados fins. Grosseiramente, uma
razão é pragmática se ela atende a finalidade de obter o melhor para
mim. Uma razão é epistêmica se ela atende a finalidade de obter a
verdade. Em alguns casos, as duas coisas podem coincidir, o que é melhor
para mim é, ao mesmo tempo, o objeto do meu conhecimento/crença e,
portanto, o que me leva ao melhor para mim também me leva para a verdade
da minha crença.
Alguém pode não considerar intuitivo que uma razão pragmática, qua pragmática,
não possa ser uma razão para crer. Se ela é apenas uma razão pragmática,
então, obviamente, ela não leva à verdade, ela não atende à finalidade
da verdade. Como a crença é a atitude de tomar um certo conteúdo
proposicional como verdadeiro, é racional fazê-lo se há uma
razão/motivação pra pensar que a verdade desta crença é obtida, ou seja,
se há uma razão epistêmica em favor da verdade. Eu não consigo entender
o contrário, como alguém vai assentir a verdade de que [x é o caso] porque
[é melhor para ele que x seja o caso]. Eu consigo imaginar que o indivíduo
deseje e [espere que x seja o caso] em função de [ser melhor para ele que
se seja o caso]. Agora a dificuldade é minha. Como alguém pode crer
racionalmente, desconsidero, obviamente, os casos de crença irracional,
mas como ele pode assentir à verdade de que [x é o caso] pelo fato de
pensar que [é melhor para ele que x é o caso]? Se a crença pretende à
verdade, como pode uma consideração sobre o que é melhor para ele
cumprir a finalidade de obter a verdade a não ser quando ela é um fator
de verdade para a sua crença?
Vejamos uma situação. S tem uma doença terminal e tem 90% de chance de
morrer. Alguns psicólogos, no entanto, já mostraram, com relativa
evidência, que sujeitos que são otimistas quanto a sua melhora,
conseguem diminuir em 10 pontos percentuais a sua chance de morte. Ou
seja, se S é otimista quando à sua melhora, ele efetivamente diminui a
sua chance de morte de 90% para 80%. Assim, é melhor para S ser otimista
quanto a sua melhora. Mas como entendemos essa expressão "S é otimista
quanto a sua melhora"? O que ela descreve? Que S crê que ele tem boas
chances de sobreviver? Não, pois, efetivamente, mesmo depois da melhora, mesmo
com 80% de chance de morrer, isso está longe de ser uma boa chance de
sobreviver. Ser otimista, neste caso, no meu entendimento, não envolve
nenhuma crença do tipo, mas sim a esperança de que de ele tem boas
chances de sobreviver. A atitude fomentada pela razão pragmática, que é
melhor ser otimista quanto à sua melhora, neste caso, não é a da crença, mas
a da esperança ou desejo. O que tem efeito benéfico sobre a saúde do
indivíduo é a sua esperança de que irá melhorar e é perfeitamente
racional, neste caso, em virtude deste achado psicológico-medicinal, que
ele tenha esta esperança. A razão pragmática é aqui suficiente para a
racionalidade da sua atitude esperançosa diante da sua melhora.
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