Eu creio que há uma mesa no meio da minha sala, pois acabo de olhar para ela. Formei a crença. Por quanto tempo é razoável atribuir-me esta crença? Alguns minutos mais tarde, já na rua, cotinuo a acreditar que há uma mesa no meio da minha sala, sem estar em condições de vê-la neste instante e, ainda assim, estou justificado a ter e manter esta crença. Quais os critérios para atribuir a manutenção da crença? A resposta correta parece-me ser: depende do que se sabe sobre a constância do objeto da crença. No caso em questão, o objeto da crença é o lugar em que a mesa se encontra. Sabemos que uma mesa não muda de lugar sozinha e na ausência de qualquer razão contrária à sua permanência no lugar onde se encontra, estamos justificados a assumir que ela continua onde estava e, portanto, não emerge a necessidade de novas verificações. Na ausência desta necessidade, estamos licenciados a atribuir a permanência da crença. A situação é diferente, por exemplo, se o objeto da crença fosse a quantidade de água em um copo que está sendo enchido por uma torneira. Eu ver em t que 1/3 do copo está cheio não é suficiente para manter a crença em t' de que ainda apenas 1/3 do copo está cheio. Pelo que sabemos sobre copos sendo enchidos por água, não é razoável supor que não houve mudança entre t e t' no que diz respeito à quantidade de água no copo. Há aqui necessidade de novas verificações e, portanto, a crença atribuída em t não pode ser mantida em t'. Seu prazo de validade é muito curto. Em geral, então, o prazo de validade de uma crença depende do que sabemos sobre a constância do objeto da crença. Isso se aplica a objetos físicos e mentais. Uma dor de cabeça, como sabemos, leva um tempo para passar. Assim, se, em t, formo a crença de que estou com dor de cabeça, por estar atento a ela, pode-se atribuí-la a mim em t', mesmo que, em t', eu não esteja atento a dor de cabeça e, por estar muito concentrado em outras tarefas, eu não esteja nem mesmo ciente dela. Pelo fato de a dor de cabeça não ser muito volátil, a crença na dor de cabeça tem um prazo de validade mais lato.
A distinção entre contexto de descoberta e contexto de justificação é normalmente apresentada como marcando a diferença entre, por um lado, os processos de pensamento, teste e experimentação que de fato ocorreram em um laboratório ou em um ambiente de pesquisa e que levaram ou contribuíram para alguma descoberta científica e, de outro, os processos de justificação e validação dessa descoberta. Haveria, portanto, uma clara diferença entre descrever como cientistas chegaram a fazer certas alegações científicas, o que seria uma tarefa para as ciências empíricas, como a sociologia, a psicologia e a antropologia da ciência, e justificar essas alegações, o que seria uma tarefa para a epistemologia, uma disciplina normativa e não-empírica. Essa distinção é corriqueira em debates acerca do escopo da filosofia da ciência e teria sido explicitada inicialmente por Reichenbach. Contudo, quando examinamos a maneira como ele circunscreveu as tarefas da epistemologia, notamos que alguns elemento...
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