Pular para o conteúdo principal

[149] Seminário sobre Semântica e Cognição: pesquisas recentes em metafísica e epistemologia

Promoção do PPG-Filosofia/UFRGS

27 de julho, segunda-feira

11h Rogério Severo (UFRGS/UFSM) – Holismo e Estruturas Lexicais

12h intervalo

14h Flávio Williges (UFRGS/UNISC) – Ceticismo e Alternativas Relevantes

15h00 César Schirmer dos Santos (UFRGS) – Antiindividualismo e Memória


28 de julho, terça-feira

11h Jônadas Techio (UFRGS) – Solipsism and Resentment: Pushing Strawson’s Descriptive Metaphysics to the Limits

intervalo

14h Paulo Faria (UFRGS) – Unsafe Reasoning

15h André J. Abath (UFPB) – Conceitos e Contexto

Local: Mini-auditório do IFCH-UFRGS, Campus do Vale, Porto Alegre, RS

RESUMOS:

André J. Abath e Eduarda Calado (UFPB), “Conceitos e Contexto”

O que separa os seres que possuem conceitos dos seres que não possuem? Quais os requerimentos que devem ser satisfeitos para que um organismo possa ser considerado como possuidor de conceitos? Ao buscarem responder tais perguntas, filósofos costumam dividir-se em ao menos dois grupos. No primeiro grupo, estão aqueles – como Donald Davidson, Robert Brandom e John McDowell – que defendem a idéia de que apenas seres linguísticos possuem conceitos. No segundo grupo, estão aqueles – como Jerry Fodor e Fred Dretske – que discordam de tal idéia. Para eles, não é a linguagem que separa os serem que possuem conceitos dos que não possuem. Afinal, supõem que os requerimentos para posse de conceitos podem ser satisfeitos por seres não-linguísticos. Nosso propósito nessa apresentação é o de contribuir para esse debate. Não argumentando que um dos grupos está correto, e o outro errado, mas apontando um novo caminho para a discussão. Posto de forma geral, defenderemos que os requerimentos para a posse de conceitos podem variar de acordo com o contexto em que o conceito é atribuído. Por exemplo, em um contexto C1, a posse de um vasto conjunto de crenças envolvendo um dado conceito pode ser um requerimento para a posse do conceito, enquanto esse pode não ser um requerimento para a posse do conceito em um contexto distinto, C2. Isso significa que, em certos contextos, a posse de linguagem pode ser um requerimento para a posse de um dado conceito, e, e em outros contextos, pode não ser. Se nossa proposta estiver correta, então ambos os grupos considerados aqui estarão errados. Afinal, não haverá requerimentos fixos para a posse de conceitos, mas requerimentos distintos para contextos distintos.


César Schirmer dos Santos (UFRGS), “Antiindividualismo e Memória”

Tópicos e problemas clássicos do debate sobre o antiindividualismo ou externismo (ou externalismo) sobre a mente e memória: a constituição de certos estados e eventos mentais intencionais segundo o antiindividualismo, acesso privilegiado à própria mente e autoridade da primeira pessoa, o problema do argumento ontológico, autoconhecimento básico, argumento da memória, prevalência dos slow switches, heraclitianismo sobre a "memória", justificação, memória preservativa, modelo xerox da memória, preservacionismo e visão dinâmica da memória, revisita ao passado (memória episódica, de longa duração), raciocínio, direitos e deveres epistêmicos.


Flávio Williges (UFRGS/UNISC), “Ceticismo e Alternativas Relevantes”

Em The Significance of Philosophical Scepticism, Barry Stroud analisa, a partir da reconstrução da argumentação de Descartes na Primeira Meditação, as principais críticas pós-cartesianas ao problema filósofico do conhecimento do mundo exterior. A primeira crítica analisada foi a esboçada por John Austin. Austin elabora sua abordagem do conhecimento a partir da análise de fatos lingüísticos relacionados com as circunstâncias ordinárias em que é apropriado fazer alegações epistêmicas e formular pedidos de revisão dessas alegações. Contra Austin, a estratégia de Stroud consistirá em sustentar que é possível que todas as condições austinianas para saber estejam satisfeitas e, ainda assim, não ser verdade que sabemos realmente algo do mundo ao redor. A distinção entre condições de asserção justificada e condições de verdade ilustraria essa possibilidade. Minha comunicação consistirá (i) na apresentação da crítica que Austin faz ao ceticismo, (ii) numa exposição detalhada da objeção de Stroud e (iii) na caracterização de uma possível réplica austiniana a Stroud.


Jônadas Techio (UFRGS), “Solipsism and Resentment: Pushing Strawson’s Descriptive Metaphysics to the Limits”

O texto apresenta uma reconstrução do argumento anti-solipsista de Strawson, tendo por base a análise do capítulo 3 de Individuals e a distinção traçada em ‘Freedom and Resentment’ entre duas espécies de atitudes que podemos adotar em relação outros seres humanos. Essa reconstrução aponta para uma importante limitação da abordagem de Strawson, a qual afeta não apenas seu tratamento do solipsismo, mas o próprio projeto de metafísica descritiva, que termina por se mostrar insuficientemente sensível a um conjunto de práticas que compõem o pano de fundo contra o qual os conceitos que constituem o ‘núcleo maciço central do pensamento humano’ adquirem vida e significado.


Paulo Faria (UFRGS), “Unsafe Reasoning”

Uma regra de inferência dedutiva é ‘a priori’ se algo o é; mas um conjunto de condições empíricas devem, em cada caso, estar satisfeitas para que uma inferência esteja conforme a certa regra de dedução. Podemos estar autorizados a pressupor (e essa autorização pode mesmo ser ‘a priori’), mas só empiricamente poderíamos descobrir, que essas condições estão, de fato, satisfeitas. O debate das últimas duas décadas sobre a compatibilidade entre anti-individualismo e autoconhecimento ilustra a dificuldade que o descaso por essas condições suscita para a filosofia da cognição: uma concepção anti-individualista do conteúdo mental é ostensivamente incompatível com a suposição de que um sujeito racional deva ser capaz de evitar a incoerência independentemente do estado de seu conhecimento empírico. Mas esse resultado não precisa ser tomado como uma redução ao absurdo do anti-individualismo: alternativamente, podemos rejeitar aquela suposição, incorporando à agenda da investigação filosófica da racionalidade o exame das vicissitudes da sorte cognitiva. Minha apresentação será uma defesa e ilustração dessa alternativa.


Rogério Passos Severo (UFRGS/UFSM), “Holismo e Estruturas Lexicais”

Persiste até hoje na literatura o debate aberto por Quine sobre o estatuto epistêmico dos chamados enunciados a priori. O desenvolvimento mais recente dessa discussão são as críticas de Michael Friedman ao holismo de Quine. Friedman argumenta que as descrições mais plausíveis do desenvolvimento das ciências são aquelas que distinguem entre enunciados constitutivos do significado de enunciados empíricos e os próprios enunciados empíricos. Essa distinção concordaria o modelo de história das ciências sugerido por Kuhn e outros, mas divergiria do modelo holístico de Quine. A distinção proposta por Friedman introduz complexidade e hierarquia na análise da estrutura interna das teorias científicas, evitando assim uma simplificação excessiva às vezes sugerida por Quine. Mas do ponto de vista de sua justificação, os chamados enunciados “constitutivos a priori” de Friedman não são diferentes em gênero dos enunciados empíricos. Não são enunciados isolados que são justificados por observações, mas teorias como um todo, ou porções suficientemente grandes de uma teoria que permitam a derivação de predições observáveis.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

[102] Relativismo e Irracionalismo

Irracionalismo é a tese de que os nossos julgamentos são arbitrários. O irracionalismo pode aplicar-se apenas a um setor do conhecimento humano. Por exemplo, podemos ser irracionalistas morais. Assim, julgamentos morais sobre como agir, o que fazer, o que é certo e errado são arbitrários, não temos uma razão para eles, eles não se fundam em nada que possa legitimá-los diante dos outros. Podem ser fomentados por nossas emoções ou desejos, mas nada disso tira a sua arbitrariedade diante da razão. Chegaríamos ao irracionalismo moral se tivéssemos razões para pensar que não há nada na razão que pudesse amparar julgamentos morais. Isto é, dado um dilema moral do tipo "devo fazer X ou ~X", não há ao que apelar racionalmente para decidir a questão. Donde se seque que, qualquer decisão que você tomar, seja a favor de X, seja de ~X, será arbitrária. Como poderia a razão ser tão indiferente à moralidade? Primeiro vejamos o que conferiria autoridade racional a um julgamento moral, pois

[197] Breve introdução à tese da mente estendida

A tese da mente estendida é distinta e não se confunde com o externismo acerca dos conteúdos mentais. Nesta breve introdução, apresento em linhas gerais o externismo acerca dos conteúdos mentais para, em seguida, contrastá-lo com a tese da mente estendida. Identifico e apresento, então, os principais comprometimentos da tese da mente estendida. A tese do externismo acerca dos conteúdos mentais afirma que as relações causais que temos com o ambiente determinam, de alguma forma, o conteúdo dos nossos estados mentais, ou seja, aquilo que percebemos, ou aquilo acerca do qual pensamos algo, ou aquilo que desejamos etc. depende dos objetos com os quais interagimos causalmente. Um argumento comum em favor dessa tese é inspirado no argumento clássico de Putnam para o externismo semântico[1]. Imaginemos um planeta muito semelhante ao nosso, praticamente gêmeo nas aparências. Ele é abundante em um líquido muito semelhante à água, povoado com seres inteligentes como nós e que usam esse lí

[200] A distinção entre contexto de descoberta e contexto de justificação, segundo Reichenbach

A distinção entre contexto de descoberta e contexto de justificação é normalmente apresentada como marcando a diferença entre, por um lado, os processos de pensamento, teste e experimentação que de fato ocorreram em um laboratório ou em um ambiente de pesquisa e que levaram ou contribuíram para alguma descoberta científica e, de outro, os processos de justificação e validação dessa descoberta. Haveria, portanto, uma clara diferença entre descrever como cientistas chegaram a fazer certas alegações científicas, o que seria uma tarefa para as ciências empíricas, como a sociologia, a psicologia e a antropologia da ciência, e justificar essas alegações, o que seria uma tarefa para a epistemologia, uma disciplina normativa e não-empírica. Essa distinção é corriqueira em debates acerca do escopo da filosofia da ciência e teria sido explicitada inicialmente por Reichenbach. Contudo, quando examinamos a maneira como ele circunscreveu as tarefas da epistemologia, notamos que alguns elemento