O problema do estudante de filosofia não levar a própria filosofia a sério, isto é, de aquiescer exclusivamente ao desfrute lúdico da exegese dos textos filosóficos ao invés de questionar pela correção e verdade dos mesmos, é que ele se priva de extrair uma lição ética importantíssima que a experiência cética nos proporciona ao seremos expostos à história da filosofia: que devemos, em princípio, estar sempre abertos às razões alheias, já que a verdade pode não estar em nossas mãos. Esta é uma lição que, eu penso, deveríamos fomentar não só nos alunos de filosofia, mas em qualquer pessoa. Além de trazer à tona o respeito mútuo, ela representa o primeiro passo em direção à difícil tarefa de compreender o mundo e a nós mesmos.
Irracionalismo é a tese de que os nossos julgamentos são arbitrários. O irracionalismo pode aplicar-se apenas a um setor do conhecimento humano. Por exemplo, podemos ser irracionalistas morais. Assim, julgamentos morais sobre como agir, o que fazer, o que é certo e errado são arbitrários, não temos uma razão para eles, eles não se fundam em nada que possa legitimá-los diante dos outros. Podem ser fomentados por nossas emoções ou desejos, mas nada disso tira a sua arbitrariedade diante da razão. Chegaríamos ao irracionalismo moral se tivéssemos razões para pensar que não há nada na razão que pudesse amparar julgamentos morais. Isto é, dado um dilema moral do tipo "devo fazer X ou ~X", não há ao que apelar racionalmente para decidir a questão. Donde se seque que, qualquer decisão que você tomar, seja a favor de X, seja de ~X, será arbitrária. Como poderia a razão ser tão indiferente à moralidade? Primeiro vejamos o que conferiria autoridade racional a um julgamento moral, pois ...
Comentários
Concordo plenamente. Só quis enfatizar a lição ética, pois em geral ela me parece passar mais desapercebida que a lição epistemológica. E, no entanto, sem extrair essa lição ética, colocamos um empecilho para o nosso avanço epistemológico.