O problema do estudante de filosofia não levar a própria filosofia a sério, isto é, de aquiescer exclusivamente ao desfrute lúdico da exegese dos textos filosóficos ao invés de questionar pela correção e verdade dos mesmos, é que ele se priva de extrair uma lição ética importantíssima que a experiência cética nos proporciona ao seremos expostos à história da filosofia: que devemos, em princípio, estar sempre abertos às razões alheias, já que a verdade pode não estar em nossas mãos. Esta é uma lição que, eu penso, deveríamos fomentar não só nos alunos de filosofia, mas em qualquer pessoa. Além de trazer à tona o respeito mútuo, ela representa o primeiro passo em direção à difícil tarefa de compreender o mundo e a nós mesmos.
A distinção entre contexto de descoberta e contexto de justificação é normalmente apresentada como marcando a diferença entre, por um lado, os processos de pensamento, teste e experimentação que de fato ocorreram em um laboratório ou em um ambiente de pesquisa e que levaram ou contribuíram para alguma descoberta científica e, de outro, os processos de justificação e validação dessa descoberta. Haveria, portanto, uma clara diferença entre descrever como cientistas chegaram a fazer certas alegações científicas, o que seria uma tarefa para as ciências empíricas, como a sociologia, a psicologia e a antropologia da ciência, e justificar essas alegações, o que seria uma tarefa para a epistemologia, uma disciplina normativa e não-empírica. Essa distinção é corriqueira em debates acerca do escopo da filosofia da ciência e teria sido explicitada inicialmente por Reichenbach. Contudo, quando examinamos a maneira como ele circunscreveu as tarefas da epistemologia, notamos que alguns elemento...
Comentários
Concordo plenamente. Só quis enfatizar a lição ética, pois em geral ela me parece passar mais desapercebida que a lição epistemológica. E, no entanto, sem extrair essa lição ética, colocamos um empecilho para o nosso avanço epistemológico.