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[181] Da onipresença do Regresso

Eu não preciso saber que sei para saber; se precisasse, teria de enfrentar um regresso. Pois para saber que sei, teria também de saber que sei que sei e assim por diante. Porém, se eu posso saber sem saber que sei, eu não posso igualmente enfrentar o regresso que questiona que sei. A única saída parece ser: se eu sei, então eu sei que sei. Objetivamente, isto parece ser verdadeiro, mas aonde nos leva? A lugar algum, pois se eu não sei que sei, então não sei. E o regresso outra vez aparece espreitando na pergunta: o que é o caso? Que você sabe ou que você não sabe? Se você sabe, então você sabe que sabe que sabe...Mas se não sabe, então você não sabe que sabe...Em todo caso, se te serve de consolo, uma coisa é certa: ou você sabe, ou você não sabe. E se você sabe, então você sabe, ainda que não saiba disto.

Comentários

O cético recebe com alegria esse regresso. Teu argumento só funciona se acreditares que sabes, mesmo que não saibas se sabe. Se o cético espernear, e gente passa o ônus pra ele. Ele vai ter que apresentar uma razão para duvidar que saibamos. E a conversa segue...
Anônimo disse…
gostei do blog e do post também,
estmos fazemdo um blog novo do colégio, gostaria que dessem uma olhada, sugestões e comentarios são sempre bem vindo ;]
Carmem


http://drinkcometrue.wordpress.com/

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