Queremos o certo para errar menos, mas é justamente por achar que temos o certo que erramos tanto e de um modo tão feio.
Voltei ao assunto da ética da crença (veja aqui a minha contribuição anterior 194 ) para escrever um texto que possivelmente será publicado como um verbete em um compêndio de epistemologia. Nesta entrada, decidi enfatizar três maneiras pelas quais a discussão sobre normas para crer se relaciona com a ética, algo que nem sempre fica claro neste debate: (1) normas morais servem de analogia para pensar normas para a crença, ainda que os domínios normativos, o epistêmico e o moral, sejam distintos; (2) razões morais são os fundamentos últimos para adotar uma norma para crer e (3) razões morais podem incidir diretamente sobre a legitimidade de uma crença, a crença (o ato de crer) não seria assim um fenômeno puramente epistêmico. O item (3) representa sem dúvida a maneira mais forte pela qual, neste debate, epistemologia e ética se entrelaçam. Sobre ele, abordei sobretudo o trabalho da Rima Basu que, a meu ver, é uma das contribuições recentes mais interessantes e inovadoras ao debate da ét...
Comentários
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p.s.: A estaticidade que a verdade( o certo) nos transmite é cômoda. Admitir que ela - a verdade - não existe, é apavorante.(Pensamentos de um alienado)
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Felizmente, ando tão confusa.
Admitir que a verdade não existe, o que nos leva rapidamente a alguns paradoxos, é diferente de admitir que ela é bem difícil de se obter.
O que devemos querer, eu não sei. Mas certamente é bom que aprendamos a viver o melhor possível em meio às incertezas. O fato de não se ter certezas não implica que todas as incertezas estejam em pé de igualdade.
Talvez a incerteza(talvez a incerteza é ótimo!) e a constante possibilidade de atestá-la e transformá-la seja o nosso combustível, o que move as nossas vidas. Acredito muito nisto hoje.( até quando durará a minha crença?risos!permita-me a referência. >texto 133<)
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Gostaria de compreender melhor o que você quis dizer com o desnivelamento das incertezas. Não percebi claramente...
Obrigada pela atenção!
Quis dizer o seguinte: partindo do conhecimento que você herda, o que não significa que não possa questioná-lo pontualmente, você consegue separar as suas crenças entre mais e menos justificadas, entre mais e menos sensatas. O desnivelamento entre as incertezas não é fixo, é incerto, porém é quase-certo que o traçará cada vez mais com menos arbitrariedade, o que não implica que algum dia o fará de modo fixo. Que o incerto seja incerto não é tão ruim quanto parece.