É preciso esclarecer o conceito de compulsão. Nas postagens anteriroes (ver [129]), tentei interpretá-lo estatisticamente, isto é, apenas por uma perspectiva da teceira pessoa, mas há elementos fundamentais da perspectiva da primeira pessoa necessários para caracterizar a compulsão. O que estava faltando é o fato de que uma vontade compulsiva (boa ou má) não é reconhecida pelo sujeito como um vontade sua. O sujeito tem a vontade, mas a vontade é percebida como algo que lhe acontece, assim como a visão de qualquer coisa é percebida como algo que nos acontece. Este caráter impositivo da vontade compulsiva, ausente nas vontades não-compulsivas, gera ansiedade no indivíduo.
Então, de duas uma, ou descrevemos o caso da pessoa santa como alguém que sempre faz o certo por ter a vontade não-compulsiva de fazer o certo, isto é, essas pessoas não têm vontades de fazer o certo que não são percebidas como suas, e, assim, elas não podem ser caracterizadas como compulsivas, ou essas vontades são do tipo compulsiva, isto é, essas pessoas, apesar de sempre fazerem o certo, têm uma certa ansiedade por terem vontades de fazer o certo que elas não reconhecem como sendo delas, e, assim, elas são caracterizadas como compulsivas e, ao meu ver, também como não-livres.
Há uma diferença entre aquele que sempre faz o certo, porque, digamos, tem uma vontade-sua de fazer o certo, e aquele que sempre faz o certo, porque, digamos, tem uma vontade-não-sua de fazer o certo. O segundo tem um comportamento compulsivo. E uma vontade ser uma vontade-não-sua não tem nada a ver com ela ser boa ou má.
Esta vontade-não-sua gera ansiedade porque o sujeito sabe que, mesmo se tiver uma vontade de resistir a ela, ela irá ser superada pela vontade-não-sua. Ela se impõe ao sujeito, assim como a visão se impõe a nós ao abrir os olhos. Ao contrário, o sujeito que tem uma vontade-sua de fazer o certo não percebe a sua vontade como algo que lhe é imposto e tem mesmo a impressão de que pode resistir a ela. Esta me parece ser uma característica fenomênica fundamental das vontades que podemos caracterizar como sendo vontades do sujeito, que pertencem a ele: ele percebe estas vontades como vontades às quais ele poderia resistir. Isto parece-me comportar graus também: quanto mais difícil parece ao sujeito resistir a uma vontade, mais ele a perceberá como uma vontade-não-sua, uma vontade que não lhe pertence e, que, portanto, gera ansiedade. E claro que a diferença de porque algumas vontades parecem assim ao sujeito e outras não é um fenômeno que cabe à psicologia explicar; certamente há uma diferença no estado psicológico/cerebral total no qual o sujeito se encontra.
Antes eu estava caracterizando a compulsão apenas numa perspectiva da terceira pessoa, o que estava faltando era caracterizá-la também na perspectiva da primeira pessoa. A diferença entre vontades-sua e vontades-não-sua baseia-se em elementos acessíveis à perspectiva da primeira pessoa.
Na terceira pessoa, tínhamos: a vontade compulsiva implica que a probabilidade de qualquer outras vontade ser realizada é baixa, a primeira vontade sempre prepondera.
Na primeira pessoa, temos: a vontade compulsiva implica que o sujeito perceba esta vontade como não sendo uma a qual ela poderia resistir através de outras vontades-suas e isto faz com que ele perceba esta vontade como não sendo sua.
E se um sujeito age por vontades-não-suas, ele age compulsivamente e, portanto, de um modo não livre. Se é um certinho por vontades-não-suas, é um compulsivo, alguém que não age livremente, ainda que, por fazer coisas boas, estejamos dispostos a tolerar, mas ainda assim é um certinho bem diferente daquele que faz o certo por ter vontades-suas de fazer o certo. Isto é muito bem ilustrado pelo Alex pós-tratamento no filme Laranja Mecânica. Ele tinha vontades-não-suas de fazer o certo, e isso fica claro pela elevada ansiedade que sentia ao surgir vontades-suas contrárias às vontades-não-suas de fazer o certo. Alex não percebia as vontades de fazer o certo como suas, eram vontades que apareciam na sua vida fenomênica como algo imposto, as quais ele não tinha como resistir.
Então, a tese de que são livres as ações resultantes das vontades do sujeito é correta se a restringimos às vontades-suas em oposição às vontades-não-suas. As vontades-não-suas dão origem ao comportamento compulsivo que corretamente não é visto como livre.
Então, de duas uma, ou descrevemos o caso da pessoa santa como alguém que sempre faz o certo por ter a vontade não-compulsiva de fazer o certo, isto é, essas pessoas não têm vontades de fazer o certo que não são percebidas como suas, e, assim, elas não podem ser caracterizadas como compulsivas, ou essas vontades são do tipo compulsiva, isto é, essas pessoas, apesar de sempre fazerem o certo, têm uma certa ansiedade por terem vontades de fazer o certo que elas não reconhecem como sendo delas, e, assim, elas são caracterizadas como compulsivas e, ao meu ver, também como não-livres.
Há uma diferença entre aquele que sempre faz o certo, porque, digamos, tem uma vontade-sua de fazer o certo, e aquele que sempre faz o certo, porque, digamos, tem uma vontade-não-sua de fazer o certo. O segundo tem um comportamento compulsivo. E uma vontade ser uma vontade-não-sua não tem nada a ver com ela ser boa ou má.
Esta vontade-não-sua gera ansiedade porque o sujeito sabe que, mesmo se tiver uma vontade de resistir a ela, ela irá ser superada pela vontade-não-sua. Ela se impõe ao sujeito, assim como a visão se impõe a nós ao abrir os olhos. Ao contrário, o sujeito que tem uma vontade-sua de fazer o certo não percebe a sua vontade como algo que lhe é imposto e tem mesmo a impressão de que pode resistir a ela. Esta me parece ser uma característica fenomênica fundamental das vontades que podemos caracterizar como sendo vontades do sujeito, que pertencem a ele: ele percebe estas vontades como vontades às quais ele poderia resistir. Isto parece-me comportar graus também: quanto mais difícil parece ao sujeito resistir a uma vontade, mais ele a perceberá como uma vontade-não-sua, uma vontade que não lhe pertence e, que, portanto, gera ansiedade. E claro que a diferença de porque algumas vontades parecem assim ao sujeito e outras não é um fenômeno que cabe à psicologia explicar; certamente há uma diferença no estado psicológico/cerebral total no qual o sujeito se encontra.
Antes eu estava caracterizando a compulsão apenas numa perspectiva da terceira pessoa, o que estava faltando era caracterizá-la também na perspectiva da primeira pessoa. A diferença entre vontades-sua e vontades-não-sua baseia-se em elementos acessíveis à perspectiva da primeira pessoa.
Na terceira pessoa, tínhamos: a vontade compulsiva implica que a probabilidade de qualquer outras vontade ser realizada é baixa, a primeira vontade sempre prepondera.
Na primeira pessoa, temos: a vontade compulsiva implica que o sujeito perceba esta vontade como não sendo uma a qual ela poderia resistir através de outras vontades-suas e isto faz com que ele perceba esta vontade como não sendo sua.
E se um sujeito age por vontades-não-suas, ele age compulsivamente e, portanto, de um modo não livre. Se é um certinho por vontades-não-suas, é um compulsivo, alguém que não age livremente, ainda que, por fazer coisas boas, estejamos dispostos a tolerar, mas ainda assim é um certinho bem diferente daquele que faz o certo por ter vontades-suas de fazer o certo. Isto é muito bem ilustrado pelo Alex pós-tratamento no filme Laranja Mecânica. Ele tinha vontades-não-suas de fazer o certo, e isso fica claro pela elevada ansiedade que sentia ao surgir vontades-suas contrárias às vontades-não-suas de fazer o certo. Alex não percebia as vontades de fazer o certo como suas, eram vontades que apareciam na sua vida fenomênica como algo imposto, as quais ele não tinha como resistir.
Então, a tese de que são livres as ações resultantes das vontades do sujeito é correta se a restringimos às vontades-suas em oposição às vontades-não-suas. As vontades-não-suas dão origem ao comportamento compulsivo que corretamente não é visto como livre.
Comentários