Não é pouco comum o depressivo lançar-se mão da idéia não-voluntarista de que lhe é completamente impossível alterar as suas paixões. Seu fado, seu sofrimento, sua depressão são experiências que ele sofre sem qualquer escolha. Ele padece a própria dor, está a ela aprisionado, o que torna o seu martírio ainda maior: como se não bastasse a dor emocional propriamente dita, tem ainda de encarar a sua própria impotência e fraqueza. Embora essa idéia tenha uma boa dose de verdade, o seu exagero torna-se mentiroso. De fato, as paixões, as emoções são fenômenos que padecemos, nos ocorrem. No entanto, se, por um lado, não é possível que tragamos à tona uma paixão diretamente por uma decisão, por uma volição, é, por outro, perfeitamente factível fomentar e causar indiretamente uma paixão ou emoção pelo raciocínio, deliberação ou imaginação, dimensões da mente que estão sob razoável controle da volição. Não é, aliás, por outro meio além da estimulação da imaginação, que a retórica obtém a sua fin...